Corrupção
Auxiliar do petista desde 1989, ele ocupou cargo de confiança na mais alta administração federal e participou de ao menos dois dos mais ruidosos escândalos do PT – o mensalão e o Dossiê dos Aloprados
Freud
Godoy: a serviço de Lula e do PT (J.F.Diorio/AE)
Freud
Godoy é uma daquelas figuras que, de longa data, cerca a carreira de Luiz Inácio
Lula da Silva. Faz-tudo do ex-presidente, ele atuou por vinte anos como
guarda-costas do petista. A ligação nasceu na primeira campanha presidencial de
Lula, em 1989, e a lealdade de Freud foi recompensada quando, em 2002, o chefe
elegeu-se presidente.
Quatorze dias depois de assumir a Presidência, Lula
nomeou Freud seu assessor
especial, com salário de 6 300 reais. Ele trabalhava no mesmo andar do gabinete
do presidente. Apesar do cargo, seguiu atuando como um misto de segurança e
auxiliar pessoal do então presidente. E prestou serviços de máxima importância
ao PT.
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Freud
estreou no noticiário policial em 2006, no caso do Dossiê dos Aloprados,
tentativa atrapalhada de petistas de comprar documentos com informações falsas
sobre os candidatos do PSDB, seus adversários nas eleições daquele ano.
Às
vésperas do primeiro turno, a Polícia Federal prendeu em flagrante em um hotel
perto do Aeroporto de Congonhas, dois petistas portando quase 2 milhões de
reais, que seriam usados para comprar o falso dossiê.
Freud Godoy foi apontado
como o homem que levantou o dinheiro e era responsável por supervisionar a parte
final da operação de compra do material.
Quando
o caso veio a público, Freud pediu demissão do cargo de assessor. Tentou fazer
parecer que era um mero auxiliar do presidente.
Na ocasião, reportagem de
VEJA mostrou que ele era, na verdade, um personagem capital do
submundo petista.
Entre as atribuições de Freud, estava a segurança das
operações do PT consideradas de risco, principalmente as que envolviam dinheiro.
Por um ano, até estourar o escândalo do mensalão, em maio de 2005, Freud cuidou
da escolta pessoal do tesoureiro do partido Delúbio Soares – hoje condenado no
julgamento do mensalão por corrupção ativa e formação de
quadrilha.
A
função de Freud na compra do dossiê foi denunciada por Gedimar Pereira dos
Passos, membro do comitê de campanha de Lula em 2006 e também envolvido no caso
dos Aloprados. Depois de um encontro na superintendência da PF em São Paulo,
onde foi pressionado a mudar sua versão, Gedimar recuou.
Freud,
como homem fiel a Lula, esteve envolvido também no mensalão, segundo depoimento do publicitário Marcos
Valério à Procuradoria-Geral da República revelado nesta
terça-feira pelo jornal O Estado de S.Paulo.
A CPI dos Correios, que
investigou o esquema, concluiu que a empresa de Freud, a Caso Comércio e Serviço
Ltda, foi beneficiária de um repasse no valor de 98 500 reais feitos pela
SMP&B. A agência de publicidade de Marcos Valério era responsável por escoar
o dinheiro de corrupção.
Em
depoimento à Polícia Federal durante as investigações do caso, Freud disse ter
recebido o montante como pagamento pela prestação de serviços de sua empresa à
campanha presidencial de Lula em 2002.
Registrada como uma varejista de produtos
de limpeza e prestadora de serviços burocráticos de escritório, a firma atuou,
de forma irregular, na campanha do petista e na fase de transição do governo na
área de segurança, alimentação, transporte e hospedagem de equipes de
apoio.
Em
janeiro de 2003, Freud procurou o comitê eleitoral do PT para receber o
pagamento pelo serviço, no valor aproximado de 115 000 reais. “Ele disse ter
sido orientado pela tesouraria do comitê a procurar uma empresa, cujo nome não
foi declinado, através do número de um telefone, por meio do qual ficou sabendo
tratar-se da SMP&B”, informa o inquérito da PF. “Ao contatar a empresa, foi
orientado a emitir uma nota fiscal no valor do crédito existente e encaminhá-la
por via postal, tendo então recebido pelo Correio um cheque de 98 500 reais.” O
montante correspondia ao valor devido, com as deduções
tributárias.
O
Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, não conseguiu, na
época, rastrear o destino do dinheiro depois que foi depositado na conta da
empresa de Freud, no banco Santanter. Segundo o depoimento de Marcos Valério,
que agora vem à tona, o dinheiro tinha como destinatário Lula e como finalidade
cobrir “gastos pessoais” do então presidente.
A
Caso Comércio e Serviço Ltda tem capital de 10 000 reais – inalterado desde sua
criação, em 1988 –, segundo dados da Junta Comercial do estado de São Paulo.
A
firma tem como sede um apartamento na Rua Vergueiro, no bairro Paraíso, na
capital paulista. A mulher de Freud, Simone Messeguer Godoy, é sócia dele no
negócio, com uma participação de 500 reais. Além dessa empresa, Freud foi sócio,
até 2009 da Caso Segurança, em Santo André. Hoje a empresa está em nome da
mulher e do cunhado e tem sede numa casa em uma rua pacata da cidade, com
letreiro na fachada.
Freud
Godoy disse nesta terça-feira que pretende processar Marcos Valério. “A minha
vida, a vida da minha empresa já foram escancaradas. Se tivesse uma vírgula a
mais teriam achado”, disse em entrevista ao Jornal Hoje, da TV Globo,
nesta terça.
“Faz seis anos que eu não vejo o presidente Lula,
não vejo ninguém e agora o cara vai lá e fala um negócio desses. Eu quero ver
provar. Se não provar, vai tomar mais uma
ação.”
12 de dezembro de 2012
VEJA
– (11/12/2012)
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