Conversas gravadas pela Polícia Federal revelam que o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira e José Weber Holanda Alves, adjunto da Advogacia Geral da União (AGU), tiveram pelo menos dois encontros para acerto de contas. Segundo a Polícia Federal, Weber recebia dinheiro para dar pareceres favoráveis à quadrilha coordenada por Vieira, que obtinha vantagens para empresas junto à Advocacia Geral da União, à Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). No jargão do grupo, a propina era chamada de “livros”, e o termo é usado em diversas conversas gravadas entre os dois pela Polícia Federal dentro da Operação Porto Seguro.
Na avaliação do Ministério Público Federal, Paulo pagava a Weber em troca de seu auxílio no parecer que fundamentaria dois empreendimentos de interesse de Miranda em áreas da União, a Ilha das Cabras, em Ilhabela, e a licença de construção de um complexo portuário na Ilha dos Bagres, no Porto de Santos, pela São Paulo Empreendimentos Portuários. Em 2010, a empresa obteve da SPU o domínio da Ilha de Bagres, por meio de um aforamento estimado em R$ 15 milhões.
O primeiro encontro para entrega de “livro” a Weber foi em abril. O adjunto da AGU liga para Vieira, que logo se justifica: “É que eu não retornei de São Paulo e eu preciso te entregar o material que você pediu para comprar, aquelas matérias de São Paulo”. E emenda: “Está em falta o livro sobre terras da União. Eu trouxe aquele volume resumido. Tem o volume resumido aqui que eu mandei comprar pra você, e preciso te entregar”.
Weber: “Eu vou viajar quinta-feira. Paulo, eu só estou aqui amanhã. Você volta quando?” Vieira: “Volto amanhã à noite.” Weber: “Amanhã, quando você chegar, me liga.” Vieira: “Você viaja na quinta-feira a que horas?” Weber: “Eu viajo na quinta de madrugada, 5h, 6h da manhã.” Vieira: “Ah tá. Então temos que providenciar. Amanhã, assim que eu chegar eu te ligo.” Weber: “Tá bom. Tá legal. Meu celular fica ligado. É que amanhã eu vou fazer uma trilha de moto de manhã com os meninos, e, aí, de tarde eu estou liberado.”
O encontro é combinado e, segundo o MPF, Weber afirmou que levaria o “livro” na viagem para dar uma lida. Em maio, Weber e Vieira marcam um café. O convite parte de Vieira: “Vamos marcar para tomar um café, por causa que (sic) eu te passo o livro lá que eu quero publicar na revista da escola, e em seguida a gente troca uma ideia.”
Por Cleide Carvalho, no Globo:
01 de dezembro de 2012
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