Para ganhar cargo, Vieira alegava que Anac era ‘muito’ tucana
Rubens
Vieira dizia a Rosemary de Noronha que Anac precisava de mais petistas - sendo
que ele mesmo não era então filiado ao partido
Rubens
Vieira, ex-diretor da Anac preso no último sábado (Reprodução
do Facebook)
O
contato do ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Rubens Vieira
comRosemary Nóvoa de Noronha, a
Rose, ex-chefe de gabinete da Presidência da
República em São Paulo, ganhou mais força no início de 2009.
Até então, a
‘protegida’ de Lula tinha um contato mais constante com o irmão de Rubens, Paulo
– tido como chefe da quadrilha de venda de pareceres de órgãos públicos, e que
também está preso. Rubens estreitou laços com Rose para que ela o ajudasse a
conseguir o cargo de diretor da Anac.
Para isso, passou quase um ano
prestando-lhe favores, como o custeio e a reforma do restaurante que ela estava
abrindo, o Yatai, em São Paulo, e o divórcio de seu atual marido, João
Vasconcelos.
Em sua estratégia para pressionar a ex-chefe de gabinete, Rubens
argumentava que na Anac havia “muitos” tucanos. Assim, ele, que se dizia
petista, seria uma escolha melhor para alinhar o andamento da agência aos
interesses do governo.
Rubens
Vieira era corregedor da agência desde 2006, mas estava cobiçando a vaga de
Ronaldo Seroa – diretor indicado pelo então ministro da Defesa, Nelson Jobim, e
que, na época, estava prestes a deixar o posto.
Segundo trechos do inquérito
da Operação Porto Seguro,
deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira, ao qual VEJA teve acesso,
Vieira encaminhou e-mail a Rose em janeiro de 2009, sete meses antes da saída de
Seroa, descrevendo a si mesmo como o candidato ideal para a vaga de diretor.
Rose pediu seu currículo e alguns artigos publicados e ordenou que ele fosse a
um evento onde o PR (sigla usada para se referir a Lula, o então presidente da
República) estaria. “Vou te (sic) colocar na lista VIP, aí você vai
cumprimentá-lo, para que ele se lembre de você”, escreveu
ela.
Em
fevereiro, Rubens escreveu a Paulo dizendo que a então ministra-chefe da Casa
Civil Dilma Rousseff havia afirmado ao ministro Jobim sua intenção de indicar
alguém para o lugar de Seroa. “Tudo indica que é desdobramento da nossa
questão”, respondeu Paulo, lançando a hipótese de que a vontade de Dilma era
resultado do pedido feito a Rose.
No e-mail, Paulo indicou vários cenários que
ilustrariam a atitude da atual presidente.
E, pensando mais além, disse que
precisavam preparar a defesa de Rubens para a hipótese de ele ser associado
aoinfeliz parecer que deu ao diretor Josef Barat, permitindo
que viajasse às custas da TAM para os Estados Unidos. “Precisamos estudar uma
defesa, associar você ao PT (...), pois você nem filiado é”,
escreveu.
Nos
meses seguintes, a cada novidade sobre uma possível vaga na diretoria da Anac,
Rubens escrevia ao irmão e a Rose – muitas vezes anexando reportagens que saíam
na imprensa sobre assuntos envolvendo os diretores. Sempre que podia, Rubens os
apelidava de “tucanos”.
Em abril, sem nenhuma resposta afirmativa de Rose sobre
a indicação, escreveu a Paulo dizendo que a ex-diretora da Anac Solange Vieira e
o então diretor – e atual presidente – Marcelo Guaranys iriam para Chile e
Austrália para visitar aeroportos. Depois, esticariam algumas semanas de férias
na Oceania, com suas respectivas famílias.
“Quem
segura a Anac nesse período, acredite, é o Waldin Rosa de Lima, um tucano. Ele
foi o consultor financeiro da campanha do Geraldo Alckmin, atuando dentro da
Nossa Caixa, onde tinha cargo de diretor”, escreveu. Em resposta, Paulo disse:
“Mande isso para a Rose no e-mail do Hotmail”.
Vestir
a carapuça de petista para conquistar a confiança de Rose foi uma estratégia
temporária. Depois de ser nomeado diretor da Anac, as atitudes de Rubens na
agência tinham muito pouca, ou nenhuma, influência petista – a não ser o caráter
de ‘toma lá dá cá’ de suas interlocuções com Rose.
Quando se tratava de
convicções econômicas, Rubens mostrava-se tão liberal quanto os que ele
criticava. “Ele era até muito liberal e não apreciava o intervencionismo”, conta
uma fonte ligada ao diretor que não quis ter seu nome citado. “Não havia
qualquer vestígio da ideologia petista nele, a não ser a própria indicação do
governo”, diz a fonte que trabalhou com Rubens na
agência.
Sem
legado – Apesar
dos amplos esforços para chegar à diretoria, Vieira não deixou legadoque
mereça lembranças. Não colecionou amigos, nem pilotou grandes projetos. “Ele só
participou da sessão do leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, no Rio
Grande do Norte, por mera burocracia e como executor. Nada naquele projeto de
privatização teve as mãos dele”, afirma um técnico que participou do
projeto.
Em
um movimento inteligente, Vieira manteve grande parte dos técnicos da diretoria
de Infraestrutura da Anac oriundos da gestão anterior (do diretor Alexandre
Barros) justamente por desconhecer a complexidade do ofício.
Além disso, Vieira
não podia fazer contratações para cargos técnicos sem que houvesse a assinatura
do diretor-presidente da agência.
“Não é que ele seja ignorante. Ele, em alguns
momentos, se esforçava para contribuir da melhor forma. Mas estava longe de ter
o preparo necessário para assumir aquele cargo. Não tinha mérito técnico”,
lembra um alto funcionário da Anac.
No
gabinete, o diretor tinha função de revisor: ou seja, levava para a votação da
diretoria colegiada os pareceres sobre o que estava sendo executado em sua área.
Por vezes, quando conversava com técnicos sobre trabalho, se mostrava aéreo e
desinteressado – como se não tivesse tempo (e vontade) de ouvir sobre o que se
passava na agência. Dava a impressão, segundo pessoas próximas, de estar voltado
para outros temas.
E, não raramente, passava horas a fio em conversas no
bate-papo MSN quando entravam em sua sala para conversar sobre assuntos
técnicos.
01 de dezembro de 2012
Ana Clara Costa, VEJA
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