Você não dá um passo sem que o governo saiba onde você está e, se quiser, veja o que você está fazendo.
Não vamos nem falar dos satélites e dos drones, capazes de ver as pintas do seu rosto lá de cima.
O seu cartão de crédito, o seu telefone celular que embute um GPS, todas as ruas, estabelecimentos comerciais ou locais que concentram gente em cada cidade e cada vila de cada canto do mundo com suas câmeras filmando tudo, os softwares de identificação de rostos, hoje equipamento padrão de qualquer máquina da Apple, tudo isso está monitorando cada um dos seus passos.
E, pairando acima de todos, lá estão o Google e o Facebook, sempre dóceis aos pedidos dos governos e dos juízes, montando, com o seu beneplácito, dossiês sobre cada um de nós, do nascimento até a morte, capazes de lembrar, sobre cada indivíduo que passou por este vale de lágrimas, para todo o sempre, coisas que ate sua mãe ou você mesmo já esqueceram.
Não deveria ser o contrário?
A democracia não se define exatamente pela negação do direito à privacidade aos governantes versus a afirmação do direito inviolável a ela pelos governados? Não somos nós que deveríamos fiscalizar-lhes cada passo e não eles aos nossos?
Recentemente o governo de São Paulo plantou um dos mais espantosos marcos dessa inversão de privilégios quando anunciou que seus policiais não poderão mais prestar ajuda a cidadãos feridos “para evitar a destruição de provas e os assassinatos de suspeitos perseguidos ou feridos em perseguições”.
E porque não instalar câmeras e microfones não só no interior das viaturas policiais mas também câmeras com visão de 360º fora delas, em estruturas levantadas acima das suas sirenes e luzes de advertência, registrando tudo que acontece ao seu redor? E nos próprios capacetes e quépis dos policiais, transmitindo suas imagens e sons para “caixas-pretas” invioláveis, como as dos aviões, a serem abertas sempre que houvesse mortes ou suspeitas de violações de direitos envolvidos?
A polícia de Alagoas, com um aparato muito menos abrangente que esse, conseguiu reduzir as “mortes em conflito” à terça ou à quarta parte.
E porque não instalar vigilância eletrônica semelhante nas delegacias e nos presídios?
Nos hospitais públicos e seus consultórios e ambulatórios? Nos balcões de atendimento das repartições e nos plenários e gabinetes dos legisladores municipais, estaduais e federais, registrando todas as reuniões agendadas?
É a mesma história dos radares nas ruas e estradas e dos celulares em presídios. Salvador instalou um bloqueador nas suas prisões durante alguns meses e, desde a primeira semana da experiência, a criminalidade caiu para uma fração das médias costumeiras. Instala-se um radar acoplado a uma máquina fotográfica em qualquer rua ou rodovia e imediatamente as infrações e mortes no trânsito naquele local despencam.
Mas nós nos submetemos a tudo isso como carneiros sem ao menos exigirmos a contrapartida óbvia sobre os nossos “representantes” e “servidores”.
Eles usam e abusam da tecnologia para nos vigiar e cercear mas nós deixamos que permaneçam no escuro para nos negar atendimento, nos escorchar, nos trair e nos violentar.
Os jornais choram e reproduzem quilômetros de colunas de “especialistas” com infindáveis discussões sobre o sexo dos anjos em torno da criminalidade e do descalabro no atendimento ao público pelo Estado, mas nenhum trata de abraçar uma campanha tão elementar como esta.
Por que?
15 de fevereiro de 2013
vespeiro
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