"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 11 de junho de 2013

VIÉS DE BAIXA


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Dilma Rousseff embicou o país na descendente e agora paga o preço: ela mesma também está com viés de baixa. A aprovação à presidente caiu e o pessimismo da população está crescendo. Seu governo acreditou que bastaria equilibrar-se em cima da alta popularidade, mas a população demonstra que não ignora suas cada vez mais evidentes fragilidades.
O Datafolha publicou ontem pesquisa de opinião que registra queda de oito pontos percentuais na aprovação da presidente em relação ao patamar alcançado em março passado. É a primeira vez que isso acontece desde que Dilma tomou posse, há praticamente dois anos e meio.
O governo da petista vinha reagindo com soberba às críticas endereçadas a seus renitentes desacertos. "A nossa popularidade é alta", costumam desdenhar. Agora terão que pôr as barbas de molho.
Pode até ainda ser alta, mas cai, e como: 
Dilma perdeu popularidade entre homens e mulheres, em todas as regiões do país, em todas as faixas de renda e em todas as faixas etárias. Sua aprovação já retrocedeu ao nível de janeiro de 2012.
Segundo alguns dados publicados pela Folha de S.Paulo ontem (a íntegra da pesquisa ainda não está disponível na internet), a aprovação a Dilma simplesmente despencou entre os brasileiros que ganham mais de dez salários-mínimos: queda de 24 pontos. Com isso, a avaliação da presidente neste extrato social caiu ao nível de dois anos atrás.

Entre os que têm ensino superior, a queda foi de 16 pontos percentuais, fazendo a presidente retroceder ao patamar de agosto de 2011. O mesmo aconteceu com a população entre 25 e 34 anos (queda de 13 pontos). Entre os brasileiros da região Sul, Dilma recuou ao nível de agosto de 2012 (queda também de 13 pontos).
Mas não foi apenas nestes segmentos, em geral mais ilustrados, da população que a presidente declinou nestes últimos três meses. Como os dados não estão inteiramente abertos na internet pelo Datafolha, vale se fiar no que escreveram Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretor-geral e diretor de Pesquisas do instituto, em
análise publicada ontem pelo jornal.
"O que chama mais a atenção na pesquisa é que, dos oito pontos de popularidade que a presidente perdeu, a maior parte é proveniente de conjuntos menos escolarizados e de menor renda, especialmente do Sudeste e Sul. E o mais importante - as mulheres, muito mais do que os homens, deixaram de apoiar Dilma. E quando se focaliza o subconjunto de mulheres de renda mais baixa, essa tendência se potencializa."
O que pesou na perda de popularidade foi, principalmente, a inflação. O tomate indigesto, a passagem de ônibus cara, a manicure proibitiva pesaram no bolso dos brasileiros de A a Z, salgaram a vida da população e azedaram o humor dos eleitores. A expectativa de que a inflação vai piorar atinge 51% dos entrevistados e só 12% creem em melhora.

Também pioraram as perspectivas quanto ao futuro. Já são maioria - numericamente, também pela primeira vez desde o início da atual gestão - os brasileiros que acham que o desemprego vai aumentar no país. O pessimismo quanto a este aspecto é o mais alto desde fins de 2009.
Há apenas três meses, 41% achavam que a situação do emprego iria melhorar e 31% achavam que iria piorar; agora, são 27% e 36%, respectivamente, numa aceleradíssima inversão de expectativas. A sensação de bem-estar vai se perdendo, no mesmo ritmo em que o dinheiro encurta, o crédito encarece e as oportunidades de trabalho rareiam.
Dilma Rousseff foi eleita em cima de uma lenda. 
Nunca, jamais, passou nem perto de ser a boa gestora que seu padrinho político apregoou ao país. Agora, sua infalibilidade também vai sendo posta à prova, onde quer que se olhe.
As deficiências da presidente no controle da inflação, na irritante repetição de pibinhos e previsões furadas, na manutenção do emprego vão se revelando aos brasileiros com todas as cores. Seu poderio parlamentar é declinante; sua capacidade de destravar investimentos e atrair o capital privado é inexistente; seu Brasil de propaganda tem limites.
A presidente não ousou fazer uma única reforma de peso e dedica-se a quinquilharias ao invés de se debruçar sobre os crescentes problemas do país. Dilma não é "nem gerente sintonizada com as exigências dos tempos modernos, muito menos gestora admirável. Atrapalhada na condução da economia. Um rotundo desastre no exercício cotidiano da política", sintetiza Ricardo Noblat n'O Globo.

Quem sabe assim, já sem o conforto do colchão da popularidade nas nuvens, Dilma Rousseff faça o que é necessário ser feito, restaure a confiança no país e cuide com zelo do dinheiro público - seu descuido está levando as agências de classificação de risco a enquadrar o Brasil entre os párias do mercado financeiro mundial.
Em resumo, deixe de empurrar os problemas com a barriga, à espera de uma ainda longínqua eleição, como vem fazendo nos últimos meses. A presidente não perde por esperar, porque os brasileiros já começaram a lhe dizer não. 
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
11 de junho de 2013

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