Só as pesquisas dos próximos meses permitirão saber se a expressiva queda dos índices de aprovação ao governo Dilma Rousseff, recém-detectada pelo instituto Datafolha, representa "um ponto fora da curva", em razão de problemas que já estariam sendo atacados pela presidente, como querem fazer crer os seus porta-vozes, ou se é um sintoma de erosão do prestígio da sucessora de Lula, motivada pelo enraizamento de uma avaliação mais realista do seu preparo - apregoado sem cessar pelo patrono de sua candidatura na campanha de 2010 - para conduzir o País.
(Ver editorial Governo perdido)
A primeira hipótese foi propagada de imediato pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, no papel de "primeiro-ministro" dilmista. Começou tentando tapar o sol com a peneira, ao chamar de "oscilação normal" a perda de 8 pontos porcentuais (de 65% para 57%) entre os que consideram ótimo ou bom o desempenho no governo. Oscilações normais, em primeiro lugar, são as que ocorrem de uma sondagem para outra dentro da margem de erro admitida.
Além disso, salvo em duas ocasiões, quando a popularidade de Dilma emagreceu ora 1 ponto, ora 2, a série de nove levantamentos do Datafolha tem sido para ela um triunfo ininterrupto - de 47% favoráveis em março de 2011 aos já citados 65% de março último.
Tampouco se poderia considerar normal uma queda verificada em rigorosamente todas as divisões da população ouvida: por sexo, idade, renda, escolaridade e região de residência. Como era de prever, o apoio a Dilma diminuiu sobretudo entre os entrevistados da classe média tradicional. Chama a atenção, porém, a elevada parcela de mulheres de renda mais baixa que deixaram de apoiar a presidente. Na sua rotina, ultimamente, ir às compras é encontrar-se com a carestia.
Para a maioria dos pesquisados, por sinal, a inflação ou vai piorar (51%) ou ficar como está (30%). Oito em dez brasileiros, portanto, não acham que ela esteja "completamente normalizada", como diz Mercadante. Não bastasse isso, a proporção dos otimistas com as perspectivas do emprego despencou em menos de três meses de 41% para 27%.
É bem verdade que Dilma ainda conserva um alentado capital de popularidade. Os índices de ótimo e bom de Fernando Henrique e de Lula, no mesmo período dos seus primeiros mandatos, eram notavelmente inferiores aos da presidente: entre 18 e 21 pontos a menos. De mais a mais, o encolhimento da aprovação do governo não inflou proporcionalmente a reprovação: os índices de ruim e péssimo subiram apenas de 7 para 9 pontos, dentro da margem de erro.
Em cima do muro, 1/3 dos entrevistados acha apenas regular a administração Dilma (eram 27% em meados de março). Ela tem, pois, uma base objetiva para recuperar o prejuízo sem precedentes diante da opinião pública. Tem também, no entanto, um obstáculo de fabricação própria e duvidosa remoção.
Se os fatores que fizeram baixar a cotação do governo se mantiverem - a inflação corroendo os ganhos acumulados de renda; a decorrente retração da capacidade dos novos consumidores de sustentar os padrões adquiridos; e a reaparição espectral do desemprego -, Dilma não terá o arrimo em que os governantes populares por si sós se escoram nas horas incertas: o vínculo emocional de simpatia e confiança semeado na população, tornando críveis as promessas de que dias melhores estão a caminho.
Para Lula, nada mais fácil. Afinal, era idolatrado. Dilma nem sequer é amada. A relação do povo com ela é racional: quando os preços, a renda, o crédito e o emprego vão bem, o seu governo recebe nota alta e ela é respeitada. Se vão mal, a decepção irrompe.
Em meio a isso, as pessoas começam a ligar os seus problemas ao desempenho da presidente. O que os brasileiros mais informados já descobriram - a inaptidão gerencial de Dilma e a mediocridade do governo - se dissemina entre os que param para pensar.
Os dilmistas festejam a posição da chefe na frente eleitoral: com 51% das intenções de voto (7 pontos aquém da sondagem anterior), ela ainda lidera a disputa de 2014. Mas, a 16 meses do pleito, o único efeito prático dessa "oscilação" será a presidente se ocupar ainda mais da campanha antecipada para evitar que se avolume o coro de "volta Lula".
11 de junho de 2013
Editorial do Estadão
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