Notícias Faltantes - Comunismo
Há mais de 30 anos, esse sistema de imbricação, ingerência e dominação, de um país comunista sobre outro país comunista, está sendo experimentado, mesmo depois da derrubada da URSS.
A ingerência orgânica crescente dos cubanos nos assuntos internos venezuelanos é um fenômeno novo em nosso continente mas não em outras partes do mundo. Esse tipo de relação entre Cuba e Venezuela, que tem forçosamente um impacto sobre a Colômbia, começou com acordos diplomáticos e comerciais e continuou com uma vasta implantação de militares e funcionários de inteligência do país dominante (Cuba) sobre o país dominado (Venezuela).
A cifra de 46 mil agentes cubanos na Venezuela foi dada meses atrás na Assembléia Nacional venezuelana. Hoje, esse processo avança com uma intromissão direta de Cuba nos assuntos internos do país vizinho. Esse sistema foi idealizado e posto em prática, em diversos graus, pelo sistema comunista, sobretudo na relação que a URSS conseguiu estabelecer, pela força e o engano, com os países do Leste Europeu e com a China, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
A implosão do mundo soviético, em dezembro de 1991, e a liquidação do Pacto de Varsóvia e do Comecon, não puseram fim de todo a esse fenômeno. Esse modelo de dominação e opressão de um regime comunista sobre outro ideologicamente compatível, sobrevive até hoje em alguns países. O caso mais conhecido é o que existe entre Vietnã, de um lado, e Camboja do outro.
Para ser breves: a ingerência vietnamita no Camboja é muito forte, sobretudo desde que o primeiro-ministro cambojano Hun Sen está no poder. Esse ditador, que hoje se diz liberal, embora tenha sido um khmer vermelho em 1975 antes de se aliar aos vietnamitas, vive rodeado de conselheiros vietnamitas que garantem sua segurança.
O aparato de Estado cambojano está infiltrado pelos vietnamitas. Sam Rainsky, um líder da oposição cambojana no exílio (na França), explica que os vietnamitas trabalham no Camboja “para manter a dominação de Hanói sobre o Camboja, para que não possamos escapar da esfera vietnamita”.
Isso começou após a invasão vietnamita do Camboja e a queda do regime dos khmers vermelhos em 1979. Desde há mais de 30 anos, esse sistema de imbricação, ingerência e dominação, de um país comunista sobre outro país comunista, está sendo experimentado, mesmo depois da derrubada da URSS.
O resultado não é agradável para o Camboja: esse país não consegue sair da pobreza e a gestão econômica de Hun Sen, baseada na corrupção e na repressão, é péssima. Por isso setores do Camboja procura a ajuda da China e do Japão, mas os vietnamitas mantêm seu controle férreo apesar de tudo. O Vietnã controla também a vida política e econômica do Laos.
O que vemos hoje na Venezuela, sobretudo a dominação cubana sobre os assuntos de Estado da Venezuela é, pois, um sistema provado na Ásia e mantido inclusive em um período posterior ao desaparecimento do sistema soviético, embora o caso da Venezuela tenha uma particularidade.
O país economicamente mais forte (Venezuela) é obrigado a entregar uma parte de seu produto nacional bruto ao país economicamente mais fraco mas politicamente hegemônico. Atribui-se a Fidel Castro esta frase de 2005: “Somos dois países, uma só nação”. Sabe-se que Caracas, graças a esse conto, envia a Havana 3.700 milhões de dólares ao ano, mais outras rubricas não-petroleiros.
Esse fenômeno poderia aparecer em outros países? Meu ponto de vista é este: pode haver planos para a Colômbia nesse mesmo sentido.
Se os desígnios de Cuba se cumprem, se a hegemonia cubana na Venezuela se aprofunda, se a orientação do governo colombiano continua sendo compatível, como foi desde agosto de 2010 com a aventura venezuelana, quer dizer, se o presidente Juan Manuel Santos cede mais e mais ante os esquemas de Caracas, a Colômbia entrará em uma fase de ingerência venezuelana-bolivariana cada vez mais acentuada.
Como os venezuelanos dependem hoje do controle político de Cuba, a Colômbia acabará forçosamente sob a dependência política da Venezuela castrista. Esse pode ser, precisamente, o esquema estratégico dos homens de Havana.
Não é sequer um plano das FARC. Elas aqui não são mais que os curingas de Cuba. No fundo, o que a ditadura cubana busca é dirigir finalmente toda a parte do norte da América do Sul, para estender sua penetração totalitária sobre a América Central e o resto da América do Sul. Nesse esquema a Colômbia ficaria sob a tutela de Caracas, e esta dependeria das decisões de Havana.
Porém, há outra variante que é necessário considerar, pois também se dá o caso em que uma ditadura comunista é capaz de levar um país vizinho não comunista a subsidiá-la. É o que ocorre entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul.
A faminta porém agressiva e militarizada Coréia do Norte foi beneficiada por enormes quantidades de alimentos e de insumos agrícolas que a próspera a anti-comunista Coréia do Sul lhe enviou, sobretudo entre 2000 e 2008. Para tratar de apaziguar seu belicoso vizinho, Seul propôs um sistema de co-existência pacífica com Pyongyang que não serviu, finalmente, senão para que a Coréia do Norte empregasse seus recursos para desenvolver armas nucleares e sistemas balísticos sofisticados.
Seul mudou sua atitude e hoje trata de condicionar sua ajuda se Pyongyang avança em temas como direitos humanos e desarmamento nuclear. O que não impede Pyongyang de atacar barcos da Coréia do Sul e ameaçá-la em desatar a “guerra total”.
Penso em uma Venezuela como a atual, dirigida por fanáticos desesperados que, sabendo-se mais fortes desde o ponto de vista do armamento, e respaldados por suas alianças com potências como Rússia, China e Irã, acreditam que poderão obrigar seu vizinho, embora este não abandone o modelo democrático, a moldar sua política interior e exterior, e até dedicar uma parte de seu ingresso nacional e de seu comércio exterior a satisfazer as necessidades do Estado bandido vizinho.
Qual será a atitude de Washington e da OEA ante essa preocupante perspectiva? Continuarão em sua indiferença e cegueira atual e verão esses planos e cenários futuros como fantásticas criações do espírito sem pés nem cabeça? Se os Estados Unidos e a OEA permitem que as coisas continuem como vão (consolidação do projeto castro-”bolivariano” no hemisfério), se o regime ditatorial cubano não cai, a Colômbia deverá enfrentar esse desafio sozinha e terá que se dar ela mesma os meios diplomáticos, políticos e militares para derrotar esse plano de sujeição a médio prazo.
11 de junho de 2013
Eduardo Mackenzie
Tradução: Graça Salgueiro
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