O mais importante das pesquisas que saíram nos últimos dias não é exatamente a queda de popularidade da presidente Dilma em si, pois ela continua muito bem avaliada, mas a confirmação de que essa avaliação é suscetível a mudanças quando a economia não anda bem.
Até agora, havia a crença disseminada de que a popularidade da presidente não se abalava nem mesmo diante dos resultados fracos da economia, pois o pleno emprego estava garantido apesar de tudo, o que garantiria também a manutenção do estado de bem-estar do eleitorado.
O resultado da pesquisa do Datafolha significa que o eleitorado da presidente é volúvel e nada solidário com dificuldades momentâneas, parecido, aliás, com os partidos de sua base aliada.
Dilma continua sendo a favorita para a eleição presidencial de 2014, mas a desconfiança do eleitor já coloca em perspectiva de baixa seu apoio, caso a inflação continue corroendo seus ganhos.
O ambiente político está conturbado justamente pela desconfiança de que o modelo econômico da presidente não se sustenta.
O ex-presidente Lula teve a coragem de enfrentar os problemas criados pela sua própria eleição logo no primeiro ano, contando com que o decorrer do mandato lhe daria fôlego para buscar um crescimento melhor no ano da reeleição.
Começou com um aumento pífio de 1,1% do PIB em 2003 e chegou ao ano da reeleição em 2006 com um crescimento de 4%, em condições de superar até mesmo a crise do mensalão. Como mote de governo, cunhou a expressão “herança maldita” para marcar o que teria sido o suposto legado tucano que recebera.
A presidente Dilma não pode denunciar a “herança maldita” que recebeu de Lula, pois tem também responsabilidade por ela, consequência da gastança generalizada para elegê-la sua sucessora.
Com a economia bombando artificialmente a uma taxa de 7,5% ao ano em 2010, a eleição de Dilma deixou rastros pelo caminho nos gastos públicos fora de controle.
As políticas falsamente chamadas de anticíclicas acabaram gerando uma série de pibinhos no governo Dilma, acrescidos de uma inflação persistente que só será derrubada às custas de “políticas rudimentares”, como a proposta de Palocci ainda no governo Lula, rejeitada com esse argumento pela então chefe da Casa Civil.
Dilma Rousseff queria enfraquecer a posição do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no governo. Bombardeado por denúncias de corrupção na prefeitura de Ribeirão Preto, Palocci já não tinha mais a proteção incondicional da oposição, que o vinha poupando para não colocar em risco a economia brasileira.
Mas a então ministra Dilma Rousseff não teve o mesmo cuidado ao atirar sem piedade na proposta de um plano de ajuste fiscal de longo prazo que vinha sendo elaborado pela equipe econômica. A proposta básica de Palocci era a de que o gasto público não podia subir mais que o crescimento do PIB.
Embora coordenado pelo então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o plano tinha a assinatura do ministro Palocci, que já havia afirmado em discurso, em uma assembleia do PT, que o ideal seria que tivéssemos um superávit fiscal de 4,25% pelos próximos dez anos.
Dilma, em entrevista ao “Estado de S. Paulo”, desqualificou os autores da proposta, dizendo que estavam baseando suas afirmações “em planilhas”, esquecendo-se da vida real, e classificou o plano de “rudimentar”, afirmando que nem o encaminharia ao presidente Lula porque não tinha as condições mínimas para um início de discussão dentro do governo. Acrescentou que gasto público “é vida”.
Hoje, a presidente Dilma, se não adotar as práticas rudimentares de controle de gastos, estará cavando sua derrota, ou armando sua própria herança maldita, na suposição de que venha a se reeleger, ainda o quadro mais provável até o momento.
11 de junho de 2013
Merval Pereira, O Globo
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