· Snowden só conseguiu sair de Hong Kong, porque a China permitiu.
· Snowden só conseguiu chegar a Moscou, porque a Rússia sabia da viagem – em cooperação com a China. É parte da relação estratégica entre os dois países, que inclui os BRICS (com Brasil, Índia e África do Sul), e a Organização de Cooperação de Xangai [orig. Shanghai Cooperation Organization]. Nenhuma fonte oficial jamais confirmará.
· Com a oferta de asilo feita pelos latino-americanos (Venezuela, Bolívia, Nicarágua; até o Uruguai consideraria a possibilidade), nos aproximamos do momento da decisão: Moscou agora avalia se – e como – ajudar Snowden a alcançar sua destinação final e, ao mesmo tempo, extrair de Washington o máximo de capital político.
Nesse roteiro, entra em cena, trovejante, o subenredo do golpe-que-não-é-golpe no Egito. Haverá erguer de sobrancelhas dos mais cínicos: bem no momento em que o governo Barack Obama começava a pirar por causa do escândalo de espionagem pela Agência de Segurança Nacional, explode no Egito uma revo-golpe-lução.
Continuam a surgir novas revelações sobre a extensão do Panopticon Orwelliano NSA-Cêntrico, mas estão sendo totalmente degradadas pela imprensa-empresa norte-americana; só se fala de Egito. Afinal, o Pentágono – ao qual a Agência de Segurança Nacional é ligada – é proprietário dos militares egípcios, coisa que até o New York Times teve de reconhecer.
Mas ainda não pegaram Snowden.
CASO MORALES
Simultaneamente, o gambito tentado pela inteligência dos EUA, de interceptar um avião presidencial de estado não inimigo, saiu-lhe espetacularmente pela culatra, em evento típico de “Spy vs Spy”, da revista Mad. Obama disse que não poria jatos “na correria”, para apanhar Snowden. Claro que não; só para forçar aviões presidenciais a pousos de emergência.
O jornal austríaco Die Presse revelou que o embaixador dos EUA na Áustria, William Eacho, foi o responsável por espalhar a informação (falsa) de que Snowden estaria a bordo do Falcon da presidência da Bolívia no qual viajava o presidente Evo Morales, saindo da Rússia – informação (falsa) que levou França, Espanha, Portugal e Itália a negar o direito de sobrevoo. Eacho – ex-presidente de uma empresa de distribuição de alimentos, sem qualquer experiência diplomática – foi nomeado por Obama para Viena, em junho de 2009. Por quê? Porque levantou muito dinheiro para a campanha de Obama.
Eacho pouco fez a favor dos que insistem que a Agência Nacional de Segurança dos EUA precisa mesmo “analisar” todos os telefonemas, e-mails e tuítos do planeta inteiro. Se não o fizerem, onde encontrarão tais pérolas de inteligência, como detectar a presença de Snowden no avião de Evo?!
Quanto à insuperável incompetência acumulada da inteligência das agências europeias, não se discute. Contudo, sempre foram muitíssimo competentes, na logística das incontáveis operações de ‘entrega extraordinária’ da CIA, nos muitos voos em que levavam prisioneiros para interrogatório em ‘outros países’, nos anos Bush. Não há notícia de avião forçado a “aterrar” – naqueles dias.
ASILO DE SNOWDEN
O hoje famoso tuíto de Alexei Pushkov, presidente da Comissão de Assuntos Estrangeiros da Duma e muito próximo do presidente Vladimir Putin, sobre a oferta de asilo feita pela Venezuela ser a “última chance” de Snowden, foi mal interpretado. Em vez de ser tomado como mostra de exasperação entre os russos, deve ser visto como sinal de trepidante excitação. Caracas, sim, recebeu o pedido de extradição, de Washington. O presidente da Venezuela Nicolas Maduro já disse que o pedido já foi rejeitado. E Caracas também recebeu um pedido de asilo, de Snowden.
Maduro foi claro: Snowden “terá de decidir quando voará para cá”. Se o filme virará Nosso Homem em Caracas cabe a Moscou fazê-lo acontecer. Snowden não pode voar por Havana, sobrevoando espaço aéreo europeu e muito próximo do espaço aéreo dos EUA. Obama pode mandar jatos “na correria”, claro.
A declaração anterior de Putin, quando ofereceu asilo a Snowden sob a condição de que parasse de vazar informações teve o claro objetivo de acalmar um enfurecido governo Obama. Mas Putin estará preparado para autorizar que Snowden seja contrabandeado para a América do Sul num bombardeiro estratégico russo (ou, melhor ainda, num submarino nuclear)? E nem assim há garantias de que Nosso Homem em Caracas não seja detonado, mais cedo ou mais tarde, por matador terceirizado da CIA. A bola está no campo da Rússia.
12 de julho de 2013
Pepe Escobar (Asia Times Online)
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