"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 12 de julho de 2013

"EXIJO DO EX-MÉDICO PADILHA UM MÍNIMO DE RESPEITO AOS VERDADEIROS MÉDICOS"

 
Como brasileiro, paciente de médicos, pagador de impostos, usuário de sistemas de Saúde privados pela inexistência de outro público que também pago (para não ter), EXIJO do ex-médico Alexandre Padilha um mínimo de respeito aos verdadeiros médicos


"A declaração de Alexandre Padilha, um médico, que desonra a todos os outros" (Foto: Elza Fiúza / ABr)
"A declaração de Alexandre Padilha, um médico, desonra a todos os outros" (Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil)



 
Não sou médico. Sou paciente de doença crônica.
 
Assim conheço, não por opção, a qualidade e o estado do serviço de saúde no Brasil.
 
Esta carta ao doutor Milton Simon Pires é mais que um depoimento. E mais do que a um médico. Tenta ser um “obrigado” e é dirigida aos 388.000 médicos do Brasil.
 
Posso afirmar que se existe um vetor desta equação que compõe o que podemos chamar – com algum favor – de sistema de saúde do Brasil, e que mereça nossa admiração, é exatamente a formação e dedicação dos médicos.
 
São competentes, dedicados e assumem uma profissão como se esta fosse um verdadeiro desafio. E é. Estudiosos, estão ao nível dos melhores do mundo.
 
E sei disto por mim. Tive que optar por permanecer neste país que me envergonha ou seguir a lógica a aceitar ir embora para um país de Primeiro Mundo que conheço, admiro e com o qual tenho profundas ligações. Profissionais, culturais e pessoais.
 
Não seria muito difícil abrir mão do Brasil, ainda mais neste mundo interconectado. Mas me foi impossível deixar de contar com meus médicos. Da qualidade e dedicação dos mesmos, que me mantém vivo. Fiquei.
 
A qualidade da medicina brasileira está na formação de seus profissionais
 
Obrigado, doutores.
 
A qualidade da medicina brasileira está na formação de seus profissionais. Se mais não fazem é porque são impedidos de fazer. Por um sistema cruel que prefere a propaganda à efetiva ação. Mesmo que vidas estejam em jogo no cassino deste poder sem escrúpulos.
 
Nunca encontrei um único médico que não abra mão de qualquer interesse menor que o fizesse desprezar a verdade e o que dele esperamos. Nós, pacientes.
 
Se em tempos passados os doentes que podiam procuravam tratamento fora do país em busca de uma melhor prática médica e conhecimento específico, hoje o que os fazem não sair é exatamente esta qualificação. Quem opta por não ser tratado em hospitais de ponta no Brasil em vez de buscá-los no exterior?
 
Esta opção é restrita a uma ínfima minoria que pode exercê-la. E se, desses, a maior parte opta por serem tratados no Brasil é porque demonstram a certeza dos melhores médicos com tratamento hospitalar confiável.
 
Mas é uma minoria.
 
Aos outros, resta buscar a única esperança que existe quando se procura o SUS: o médico. O profissional de saúde que tentará, dia a dia, suprir o descaso governamental para exercer o que aprendeu e o que escolheu como missão.
 
Médicos: "os guilhermes, fernandos, marcelos, farahs, carlos eduardos, quintelas, carmens e marias dos hospitais do Brasil são profissionais que honram a profissão e fazem parte do Brasil decente. São a maioria"(Foto: AP)
 
A maioria dos médicos são profissionais que honram a profissão e fazem parte do Brasil decente
 
Conheço diversos “Miltons”. São os guilhermes, fernandos, marcelos, farahs, carlos eduardos, quintelas, carmens e marias dos hospitais do Brasil. Profissionais que honram a profissão e fazem parte do Brasil decente. São a maioria.
 
A declaração de Alexandre Padilha, um médico, que desonra a todos os outros. Em nome da subserviência ao poder, ofende a ex-colegas. Visto que hoje, médico já não é.
 
Não será mais dois anos de serviço civil obrigatório – em uma clara atitude ditatorial que tolhe o direito individual de toda uma categoria de profissionais – que os farão ser “mais humanos”.
 
Ser mais ou menos humano depende de caráter. De formação. Aspectos que Padilha não tem. Quem, como médico, abre mão da vida para optar pela morte, não merece que o identifiquemos como um ser humano de caráter. Padilha aceita ser o coveiro das filas de hospitais, dentro dos quais médicos de verdade tentam diminuir o número da clientela do ministro que não representa a classe médica do Brasil.
 
Empurraram a culpa das falhas do sistema aos médicos
 
Não serão dois anos a mais na formação médica, sobretudo com o trabalho “na marra” em regiões remotas, que irão resolver os desatinos do sistema de saúde do Brasil. Ninguém – absolutamente ninguém – consegue defender este absurdo. É somente transformar os médicos na nova explicação para a falência do sistema.
 
Encontraram culpados. Na economia, era a herança maldita. Na política, os direitistas raivosos. Na educação, os professores preguiçosos. Na mídia, os golpistas. E agora, na saúde, os médicos que precisam ser “mais humanos”.
 
Como brasileiro, paciente de médicos, doente crônico, pagador de impostos, usuário de sistemas de Saúde privados pela inexistência de outro público que também pago (para não ter), EXIJO do ex-médico Alexandre Padilha um mínimo de respeito aos verdadeiros médicos. E a todos nós.
 
Afinal, qual cidadão brasileiro faria a opção de ser atendido por Alexandre Padilha ao invés de sê-lo por Milton Simon Pires?

12 de julho de 2013
Post do Leitor e amigo do blog Reynaldo-BH
in Blog Ricardo Setti - Veja

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