Com dólar em alta, país perderá uma posição no ranking mundial
O dólar alto deve fazer o Brasil voltar uma casa no ranking das maiores economias do planeta. Cálculos da agência de classificação de risco Austin Rating, a partir de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), apontam que o país pode cair da atual sexta posição no mundo para a sétima.
É o efeito da valorização da moeda americana - que no ano já subiu mais de 6% -sobre o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e produtos produzidos) do país. Pelo levantamento, o PIB perderia cerca de US$ 100 bilhões com a desvalorização do real, saindo de US$ 2,45 trilhões para US$ 2,34 trilhões.
As novas projeções não mexem com as primeiras cinco posições no ranking, ocupadas por Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França. O Brasil troca de lugar com o Reino Unido, que reassume a sexta posição com o dólar valorizado aqui. O retrato segue mais uma vez inalterado, com Itália, Rússia e Canadá fechando o quadro das dez maiores economias.
- É uma mudança que ocorre somente por causa do câmbio. Não é por causa de perda de fôlego ou freio no crescimento. É uma mudança que tende a ser momentânea e não traz dúvidas sobre, por exemplo, a capacidade de o país honrar seus pagamentos em dólar.
O país volta para uma posição que já ocupava antes. Não se trata de uma alteração brusca - disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
O dólar num patamar mais elevado tornou o PIB brasileiro mais real, acrescentou José Eustáquio Vieira, economista do Ipea. Em sua avaliação, os números brasileiros eram "artificiais" em decorrência de um câmbio distorcido.
- O câmbio, sem dúvida, estava muito apreciado. Porém, se o câmbio passar dos R$ 2,10, o país deixa de ter uma taxa de câmbio competitiva para ter uma taxa que prejudica o crescimento econômico.
Professora do Instituto de Economia da Unicamp, Simone Deos diz não ver impacto significativo de um possível rebaixamento do Brasil no ranking dos maiores PIBs mundiais.
- Pode-se até argumentar que isso pode ter alguma influência sobre o comportamento dos agentes econômicos, tanto do governo quanto da iniciativa privada, mas em um momento de instabilidade, como o que o mundo vive, é apenas um efeito estatístico.
Para ela, os possíveis efeitos do câmbio depreciado - aumento dos valores em reais das exportações e redução das importações devido ao custo mais elevado -no PIB só devem aparecer quando a cotação se estabilizar.
- O que estamos vendo é um momento de grande volatilidade - afirma ela, acrescentando que estes efeitos dependeriam de outros fatores, como o nível de atividade da indústria e os preços das commodities .
Efeitos benéficos ainda estão por vir
Na avaliação de Fernando Montero, economista da Convenção Corretora, esse retrato é pouco representativo. Funciona mais, segundo ele, como um marketing político dos países.
- Em 1999, quando o Brasil acabava de sair do câmbio fixo e a Argentina ainda estava na conversibilidade, o PIB argentino ficou quase superior ao brasileiro.
Já o professor Fernando de Holanda, da Fundação Getulio Vargas, diz que comparar os PIBs dos países é uma metodologia inadequada.
- É possível tornar um país rico, apenas apreciando o câmbio.
É um indicador inadequado.
Para Gilberto Braga, professor do Ibmec-RJ, os efeitos positivos da alta do dólar não estão sendo sentidos devido ao fraco desempenho da indústria. Já os aumentos dos preços de insumos importados poderão provocar pressão sobre a inflação.
- O Brasil está sofrendo os malefícios da alta do dólar sem desfrutar dos benefícios - avaliou o economista que projeta alta de 2,6% no PIB deste ano. -Os preços dos combustíveis, por exemplo, que afetam os custos de logística, estão sendo subsidiados pelo governo.
É uma bomba-relógio que vai estourar.
O economista do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, afirma que já trabalhava com dólar a R$ 1,90, portanto não precisou mudar suas previsões para o PIB -que, segundo ele, deverá crescer 2,7%.
Gonçalves diz que os efeitos da alta são potencialmente positivos, mas dependem da evolução da economia chinesa e dos desdobramentos da situação na Europa.
Fabiana Ribeiro O Globo
O dólar alto deve fazer o Brasil voltar uma casa no ranking das maiores economias do planeta. Cálculos da agência de classificação de risco Austin Rating, a partir de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), apontam que o país pode cair da atual sexta posição no mundo para a sétima.
É o efeito da valorização da moeda americana - que no ano já subiu mais de 6% -sobre o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e produtos produzidos) do país. Pelo levantamento, o PIB perderia cerca de US$ 100 bilhões com a desvalorização do real, saindo de US$ 2,45 trilhões para US$ 2,34 trilhões.
As novas projeções não mexem com as primeiras cinco posições no ranking, ocupadas por Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França. O Brasil troca de lugar com o Reino Unido, que reassume a sexta posição com o dólar valorizado aqui. O retrato segue mais uma vez inalterado, com Itália, Rússia e Canadá fechando o quadro das dez maiores economias.
- É uma mudança que ocorre somente por causa do câmbio. Não é por causa de perda de fôlego ou freio no crescimento. É uma mudança que tende a ser momentânea e não traz dúvidas sobre, por exemplo, a capacidade de o país honrar seus pagamentos em dólar.
O país volta para uma posição que já ocupava antes. Não se trata de uma alteração brusca - disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
O dólar num patamar mais elevado tornou o PIB brasileiro mais real, acrescentou José Eustáquio Vieira, economista do Ipea. Em sua avaliação, os números brasileiros eram "artificiais" em decorrência de um câmbio distorcido.
- O câmbio, sem dúvida, estava muito apreciado. Porém, se o câmbio passar dos R$ 2,10, o país deixa de ter uma taxa de câmbio competitiva para ter uma taxa que prejudica o crescimento econômico.
Professora do Instituto de Economia da Unicamp, Simone Deos diz não ver impacto significativo de um possível rebaixamento do Brasil no ranking dos maiores PIBs mundiais.
- Pode-se até argumentar que isso pode ter alguma influência sobre o comportamento dos agentes econômicos, tanto do governo quanto da iniciativa privada, mas em um momento de instabilidade, como o que o mundo vive, é apenas um efeito estatístico.
Para ela, os possíveis efeitos do câmbio depreciado - aumento dos valores em reais das exportações e redução das importações devido ao custo mais elevado -no PIB só devem aparecer quando a cotação se estabilizar.
- O que estamos vendo é um momento de grande volatilidade - afirma ela, acrescentando que estes efeitos dependeriam de outros fatores, como o nível de atividade da indústria e os preços das commodities .
Efeitos benéficos ainda estão por vir
Na avaliação de Fernando Montero, economista da Convenção Corretora, esse retrato é pouco representativo. Funciona mais, segundo ele, como um marketing político dos países.
- Em 1999, quando o Brasil acabava de sair do câmbio fixo e a Argentina ainda estava na conversibilidade, o PIB argentino ficou quase superior ao brasileiro.
Já o professor Fernando de Holanda, da Fundação Getulio Vargas, diz que comparar os PIBs dos países é uma metodologia inadequada.
- É possível tornar um país rico, apenas apreciando o câmbio.
É um indicador inadequado.
Para Gilberto Braga, professor do Ibmec-RJ, os efeitos positivos da alta do dólar não estão sendo sentidos devido ao fraco desempenho da indústria. Já os aumentos dos preços de insumos importados poderão provocar pressão sobre a inflação.
- O Brasil está sofrendo os malefícios da alta do dólar sem desfrutar dos benefícios - avaliou o economista que projeta alta de 2,6% no PIB deste ano. -Os preços dos combustíveis, por exemplo, que afetam os custos de logística, estão sendo subsidiados pelo governo.
É uma bomba-relógio que vai estourar.
O economista do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, afirma que já trabalhava com dólar a R$ 1,90, portanto não precisou mudar suas previsões para o PIB -que, segundo ele, deverá crescer 2,7%.
Gonçalves diz que os efeitos da alta são potencialmente positivos, mas dependem da evolução da economia chinesa e dos desdobramentos da situação na Europa.
Fabiana Ribeiro O Globo
29 de maio de 2012
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