"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 26 de julho de 2012

O AVESSO DA DEMOCRACIA

Li esta semana nas páginas amarelas de “Veja” a entrevista com o candidato da oposição ao governo da Venezuela, cuja eleição para presidente daquele país irá ocorrer no dia 07 de outubro próximo.

(na íntegra Entrevista - Henrique Capriles)

O candidato da oposição, um jovem de 39 anos, Henrique Caprilles que era governador do estadode Miranda, o segundo estado mais populoso da Venezuela, enfrentará o tenente-coronel aposentado, ditador e candidato dos militares, Hugo Chaves.


A entrevista com Caprilles é um retrato três por quatro, dos mais nítidos sobre o que é a América Latina com sua eterna tradição ditatorial e antidemocrática, de violações das leis e dos direitos fundamentais da democracia. Não seria errado dizer que somos o avesso da democracia.

O incrível é vermos o governo do PT, em especial Lula (para não falar em José Dirceu), dando apoio à reeleição do Coronel Hugo Chaves. É incrível, mas não surpreendente. Parece mesmo que a mentalidade petista anda em paralelo com a mentalidade militar. Ambos rejeitam a democracia, ainda que digam o contrário. Aliás, dizer é uma coisa, as ações provam outra.

Mas lendo a entrevista com Caprilles ficamos sabendo por inteiro das dificuldades de convivência e de se fazer oposição diante de um regime com o espírito ditatorial. O uso do Estado a favor do candidato do governo, o uso da força, da coação, da intimidação, velada ou aberta, é algo que causa horror e o que tem ocorrido nas agora na campanha para presidência na Venezuela.
Para quem não sabe, Hugo Chaves assumiu o poder no país vizinho através do voto em 1998. Mas antes já tentara um golpe do Estado em 1992 contra o então presidente da Ação Democrática, Carlos André Peres, mas que foi abortado.
No entanto, assim que assume o poder em 1998 acaba com o Congresso e convoca uma Assembleia Nacional Constituinte. Com a nova Constituição amplia os poderes do Executivo permitindo uma maior intervenção do Estado na economia e elimina o Senado. Há quem veja nessas atitudes “socialismo”.

Hoje a Venezuela é um país que vive exclusivamente do petróleo da estatal PDVSA, cuja produção de barril/dia vem caindo todos os anos. A Venezuela nada produz e vive de importação. Alguns economistas chegam a afirmar que em 10 anos Chaves diminui em 40% a indústria do país.

Também fechou canais de televisão e rádio hostis ao seu governo. A Venezuela é um país miserável comandado por um ditador, retrogrado, populista, cheio de focos de corrupção não divulgados por conta do controle governamental.

Na entrevista as páginas amarelas de “Veja”, o candidato da oposição se mostrou confiante e otimista com relação ao resultado das eleições de 07 de outubro próximo. Faz parte do jogo. Mas é difícil, dentro do atual quadro, pensar em legitimidade nessas eleições. De qualquer forma há pesquisas que apontam vantagem para Chaves e algumas outras para o candidato da oposição.

Bom, é lamentável dizer isso, mas a América Latina continua sendo o campo da fantasia politica, ou melhor, o espaço da fantasia, por isso pouco funciona nos setores públicos, ou quase nada funciona. No entanto, vivemos como “se algum dia” fosse funcionar.
Há outros nomes para definir essa situação. Por ora, fiquemos com o nome de populismo, ainda que demagogia também fosse um nome interessante.

Laurence Bittencourt
26 de julho de 2012

(*) Foto: Caprilles com a mão direita erguida.

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