Na Espanha estão vendendo
castelos, centenas deles, com pedigree, muralhas, torres, alguns até com
fantasma. E por uma pechincha. Pode-se adquirir um castelinho modesto ou um
castelo bom, mas em péssimo estado, por cerca de meio milhão de euros. Ou pagar
uns 15 milhões de euros por um castelaço restaurado e com direito a brasão acima
da porta.
Pensemos em metragem. Façamos uma comparação com a Vieira Souto, onde um apartamento grifado pode custar mais de R$ 30 milhões, sem ponte levadiça, sem muralha, sem calabouço. Feito o câmbio, um castelo me parece excelente opção.
E tão mais elegante. Picasso tinha um, grande e belo, plantado no meio do verde, na Provence. E ali viveu e pintou durante um bom tempo. Depois da sua morte, esteve aberto à visitação, mas quando fui o encontrei fechado. Outro pintor, Balthus, comprou o Chateu de Chassy, onde morou com a jovem esposa japonesa. Lembro-me de um ensaio fotográfico, enormes cômodos quase vazios, uma cama com dossel vermelho sangue, cortinados e, na luz tão antiga quanto as paredes descascadas, o artista usando um quimono que trazia bordado o brasão da sua nobre família polonesa.
Umberto Eco, logo depois do sucesso de O nome da rosa, e talvez inspirado por ele, não comprou um castelo, mas comprou uma torre. E ali instalou sua biblioteca. A torre não era parte de um castelo, era autônoma. Há muitas na Itália, sobretudo nos altos penhascos perto do mar, onde serviam para vigiar o aproximar-se de navios invasores e de onde se lançava o célebre alerta: “Mouros na costa!”. Mas a torre mais estranha não vi na Itália, vi na Irlanda. Redonda como um silo, modesta, sua porta de entrada era localizada bem acima do nível do chão, na altura, digamos, de um segundo andar. Fora refúgio de monges que, no passado, ali se protegiam das invasões vickings. Bastava ver os louros chegando e subiam todos correndo, retiravam a escada de corda e trancavam a porta.
Tenho um castelo favorito. Não é meu, mas morei lá durante uma semana – como Dante, cuja passagem entre aqueles muros está lembrada por uma placa de bronze. É o castelo de Gargonza, na Toscana, metido entre ciprestes no topo do Monte San Savino. Comunidade agrícola protegida pelo Senhor – e pelas altas muralhas – na Idade Media, foi transformado pela modernidade em algo bem mais prazeroso. As 20 casas que antigamente abrigavam camponeses e artesãos são hoje alugadas a turistas, o corpo do castelo abriga um hotel, a antiga capela continua recebendo fiéis. Sei que no verão a alegria invade todos os espaços, mas estive no outono e no silêncio, quentando sol entre gerânios, atenta à voz do tempo que talvez fosse só chamar de pássaros.
Sei que há outro castelo à venda, também na Toscana, perto da estrada entre Roma e Florença. É menor um pouco, apenas cinco edificações, mas as quatro torres abrigariam com folga minha biblioteca. Dante não passou por lá, quem esteve entre seus muros foi Carlos Magno. Está todo restaurado e não é caro, sobretudo se considerarmos os 32 acres de campo que o rodeiam, todos plantados com oliveiras não tão antigas quanto o castelo, mas quase.
A quem está pensando em comprar apartamento em zona nobre de grande cidade brasileira, aconselho vivamente. Custa só 13 milhões de euros.
Pensemos em metragem. Façamos uma comparação com a Vieira Souto, onde um apartamento grifado pode custar mais de R$ 30 milhões, sem ponte levadiça, sem muralha, sem calabouço. Feito o câmbio, um castelo me parece excelente opção.
E tão mais elegante. Picasso tinha um, grande e belo, plantado no meio do verde, na Provence. E ali viveu e pintou durante um bom tempo. Depois da sua morte, esteve aberto à visitação, mas quando fui o encontrei fechado. Outro pintor, Balthus, comprou o Chateu de Chassy, onde morou com a jovem esposa japonesa. Lembro-me de um ensaio fotográfico, enormes cômodos quase vazios, uma cama com dossel vermelho sangue, cortinados e, na luz tão antiga quanto as paredes descascadas, o artista usando um quimono que trazia bordado o brasão da sua nobre família polonesa.
Umberto Eco, logo depois do sucesso de O nome da rosa, e talvez inspirado por ele, não comprou um castelo, mas comprou uma torre. E ali instalou sua biblioteca. A torre não era parte de um castelo, era autônoma. Há muitas na Itália, sobretudo nos altos penhascos perto do mar, onde serviam para vigiar o aproximar-se de navios invasores e de onde se lançava o célebre alerta: “Mouros na costa!”. Mas a torre mais estranha não vi na Itália, vi na Irlanda. Redonda como um silo, modesta, sua porta de entrada era localizada bem acima do nível do chão, na altura, digamos, de um segundo andar. Fora refúgio de monges que, no passado, ali se protegiam das invasões vickings. Bastava ver os louros chegando e subiam todos correndo, retiravam a escada de corda e trancavam a porta.
Tenho um castelo favorito. Não é meu, mas morei lá durante uma semana – como Dante, cuja passagem entre aqueles muros está lembrada por uma placa de bronze. É o castelo de Gargonza, na Toscana, metido entre ciprestes no topo do Monte San Savino. Comunidade agrícola protegida pelo Senhor – e pelas altas muralhas – na Idade Media, foi transformado pela modernidade em algo bem mais prazeroso. As 20 casas que antigamente abrigavam camponeses e artesãos são hoje alugadas a turistas, o corpo do castelo abriga um hotel, a antiga capela continua recebendo fiéis. Sei que no verão a alegria invade todos os espaços, mas estive no outono e no silêncio, quentando sol entre gerânios, atenta à voz do tempo que talvez fosse só chamar de pássaros.
Sei que há outro castelo à venda, também na Toscana, perto da estrada entre Roma e Florença. É menor um pouco, apenas cinco edificações, mas as quatro torres abrigariam com folga minha biblioteca. Dante não passou por lá, quem esteve entre seus muros foi Carlos Magno. Está todo restaurado e não é caro, sobretudo se considerarmos os 32 acres de campo que o rodeiam, todos plantados com oliveiras não tão antigas quanto o castelo, mas quase.
A quem está pensando em comprar apartamento em zona nobre de grande cidade brasileira, aconselho vivamente. Custa só 13 milhões de euros.
Marina Colasanti
ESTADO DE
MINAS
26/07/2012
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