"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 26 de julho de 2012

O TEMPO PASSA, A UVA PASSA


O mundo gira, as horas voam, mas, como na precisa descrição de Minas Gerais feita por seu governador Magalhães Pinto, o Brasil continua onde sempre esteve.
Renan Calheiros, que já foi certa vez obrigado a renunciar para escapar à cassação, é não apenas líder do PMDB como pretende ser o sucessor de José Sarney na Presidência do Senado.
E Sarney? Sarney, certamente, estará disponível daqui a alguns anos para ser o sucessor de Renan na Presidência do Senado.

O Brasil está onde sempre esteve, mas algumas coisas mudam. Renan era inimigo de Sarney, e ambos eram inimigos de Lula; hoje, Renan e Sarney são amigos de infância, e Lula é padrinho de Renan.
Os três eram inimigos irrevogáveis de Paulo Maluf, mas formam hoje uma grande família. Mais do que afrodisíaco, como dizia Ulysses Guimarães, o poder faz com que aflore o lado bom de cada um e deixe os políticos cheios de amor para dar (e receber).

A lição do filósofo Aloízio Mercadante, de que tudo que é irrevogável pode ser revogado, paira sobre o país. Renan Calheiros era comunista dos mais ferozes, José Sarney era a voz civil da ditadura militar, Lula nasceu para combater a ambos e liderar passeatas com o slogan “Uh, uh, uh, Maluf no Carandiru” – uma referência ao grande presídio paulistano.

 Mas todos se abraçaram, convencidos de que só o amor constrói. E, quase 30 anos após o fim da ditadura, são seus nomes que continuam no noticiário. Amor a dinheiro e verbas também é amor.

O tempo passa, e o Brasil é o mesmo. Mas enrugado como uma uva passa.

Carlos Brickmann
26 de julho de 2012

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