A CPI do Cachoeira corre o risco de chegar ao fim sem ter um relatório aprovado. Integrantes da comissão, de todos os partidos, demonstram, em público e nos bastidores, que se sentem incomodados com o texto final preparado pelo relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG). Alguns argumentam que não concordam com o indiciamento do jornalista Policarpo Júnior, da “Veja”, nem com investigação sobre atos do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Outros, sem alarde, discordam do indiciamento de Fernando Cavendish, ex-dono da construtora Delta, embora, publicamente, digam o contrário. Líderes do PMDB diziam que o partido votará contra o relatório.
Nesta quinta-feira, Odair Cunha — que acrescentou os pontos polêmicos em seu parecer após sofrer pressão da cúpula do PT — percebeu que uma maioria se formava na CPI contra seu texto. Por isso, pediu o adiamento da leitura para a próxima quarta-feira. Disse que desejava dialogar com seus colegas para que o relatório reflita o pensamento da maioria da comissão. Mas observou: — Tenho limites no diálogo.Disse que está disposto a retirar nomes ou incluir outros, sem citar nomes. A decisão do adiamento da leitura do relatório final surpreendeu os parlamentares. Ao chegar à CPI, Odair Cunha disse que leria o documento. Depois, ausentou-se por cerca de 20 minutos e, na volta, anunciou sua intenção.
— Estamos trabalhando para derrotar o parecer do relator. Este relatório não dá para salvar — disse o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) já adiantou que votará contra o parecer de Odair Cunha: — Devíamos aprofundar as investigações, a quebra de sigilos. É um relatório insano. Na avaliação de alguns parlamentares, mesmo que Odair Cunha retire as menções ao jornalista e ao procurador-geral, haverá dificuldades para votar o parecer. Um deputado, que não quis se identificar, disse que alguns de seus colegas viram no indiciamento de Policarpo e no pedido de investigação contra Gurgel a desculpa para votar contra o relatório, embora o que desejam impedir é o indiciamento de Cavendish.
Os parlamentares que conversaram com o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), foram orientados a não apoiar o relatório. A alegação é que o partido foi surpreendido pelo teor do texto e não foi consultado sobre o indiciamento do ex-dono da Delta. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) discordou do adiamento: — A investigação foi pessoal, direcionada e restrita. Só foram poupados os aliados, e atacados com veemência aqueles que a sanha persecutória do ex-presidente Lula determinou. Vamos adiar por quê? Não tem segurança para lê-lo?
(O Globo)
23 de novembro de 2012
in coroneLeaks
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