O déficit em transações correntes (mercadorias e serviços) bateu na casa de 3% do Produto InternoBruto, superando a média histórica de 2,1% do PIB
Ao longo da história, as crises mais sérias da economia brasileira tiveram origem em desequilíbrios no câmbio. Daí os governantes terem sido mais condescendentes com o fenômeno da inflação doméstica, porém não tanto quando no horizonte surgiram ameaças ao financiamento das contas externas.
Por conta da insuficiência crônica de poupança interna, o Brasil voltou a acumular déficits elevados nas chamadas transações correntes, que envolvem as contas que contabilizam o intercâmbio de mercadorias e serviços com o exterior. O déficit de serviços se acentuou porque os brasileiros estão viajando mais ao exterior, e gastando também mais lá fora, enquanto no caminho inverso o fluxo de turistas estrangeiros evolui moderadamente, pois o país ficou caro em comparação a outros destinos.
Na balança comercial, o saldo encolheu rapidamente pelo enfraquecimento da produção industrial local e porque a produção de petróleo estagnou. Além disso houve um salto no consumo de gasolina e diesel em volumes bem acima da capacidade de processamento das refinarias da Petrobras.
O boom dos preços altos das commodities agrícolas e minerais foi estancado pelo arrefecimento das economias asiáticas, nossos maiores importadores. O resultado é que este ano existe até a possibilidade de a balança comercial ser deficitária.
O déficit em transações correntes ultrapassou 3% do Produto Interno Bruto, superando a média histórica (equivalente a 2,1% do PIB), o que possivelmente é uma das principais razões de o real ter diminuído sua apreciação em relação ao dólar. Essa é também uma das razões de os mercados não estarem se comportando como se a economia brasileira estivesse prestes a viver uma nova crise nas contas externas. O câmbio flutuante é uma via natural desse ajuste, embora seja um remédio amargo, porque no primeiro momento pode provocar pressões inflacionárias e até mesmo recessão.
Outra razão é que o Brasil acumulou nos últimos anos reservas cambiais expressivas, da ordem de US$ 370 bilhões, superiores, por exemplo, a toda a dívida externa. Até há pouco, o déficit em transações correntes vinha sendo financiado integralmente por investimentos diretos, que é a forma mais saudável, pois atrela esses capitais ao sucesso econômico do país. Para serem remunerados adequadamente, os investimentos diretos precisam gerar lucros aqui dentro.
A médio prazo, o Brasil tem condições de reverter esse quadro nas contas externas, se viabilizar os investimentos em segmentos como infraestrutura e petróleo. Continuar atraindo investidores para o país é então de fundamental importância para que a economia faça essa transição, financiando o déficit em transações correntes pelo caminho mais saudável, sem depender do fluxo nervoso dos recursos voláteis.
26 de julho de 2013
Editorial de O Globo
Por conta da insuficiência crônica de poupança interna, o Brasil voltou a acumular déficits elevados nas chamadas transações correntes, que envolvem as contas que contabilizam o intercâmbio de mercadorias e serviços com o exterior. O déficit de serviços se acentuou porque os brasileiros estão viajando mais ao exterior, e gastando também mais lá fora, enquanto no caminho inverso o fluxo de turistas estrangeiros evolui moderadamente, pois o país ficou caro em comparação a outros destinos.
Na balança comercial, o saldo encolheu rapidamente pelo enfraquecimento da produção industrial local e porque a produção de petróleo estagnou. Além disso houve um salto no consumo de gasolina e diesel em volumes bem acima da capacidade de processamento das refinarias da Petrobras.
O boom dos preços altos das commodities agrícolas e minerais foi estancado pelo arrefecimento das economias asiáticas, nossos maiores importadores. O resultado é que este ano existe até a possibilidade de a balança comercial ser deficitária.
O déficit em transações correntes ultrapassou 3% do Produto Interno Bruto, superando a média histórica (equivalente a 2,1% do PIB), o que possivelmente é uma das principais razões de o real ter diminuído sua apreciação em relação ao dólar. Essa é também uma das razões de os mercados não estarem se comportando como se a economia brasileira estivesse prestes a viver uma nova crise nas contas externas. O câmbio flutuante é uma via natural desse ajuste, embora seja um remédio amargo, porque no primeiro momento pode provocar pressões inflacionárias e até mesmo recessão.
Outra razão é que o Brasil acumulou nos últimos anos reservas cambiais expressivas, da ordem de US$ 370 bilhões, superiores, por exemplo, a toda a dívida externa. Até há pouco, o déficit em transações correntes vinha sendo financiado integralmente por investimentos diretos, que é a forma mais saudável, pois atrela esses capitais ao sucesso econômico do país. Para serem remunerados adequadamente, os investimentos diretos precisam gerar lucros aqui dentro.
A médio prazo, o Brasil tem condições de reverter esse quadro nas contas externas, se viabilizar os investimentos em segmentos como infraestrutura e petróleo. Continuar atraindo investidores para o país é então de fundamental importância para que a economia faça essa transição, financiando o déficit em transações correntes pelo caminho mais saudável, sem depender do fluxo nervoso dos recursos voláteis.
26 de julho de 2013
Editorial de O Globo
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