Meus amigos, imaginem um sujeito... qualquer sujeito... alguém que não chamaria à atenção de mulher alguma pela sua beleza ou de homem pela sua força... alguém que merece mais do que qualquer outro o título de “sujeito comum”. Imaginaram?
Pois bem, o que vocês diriam se eu afirmasse que esse cara é capaz de entrar dentro de sua casa, colocar dois dedos dentro da vagina de sua mulher, e afirmar que seu filho está nascendo? Que impressão ficar de uma criatura cujas funções incluem dizer se um juiz deve ou não ficar afastado do trabalho?
Que tamanho tem o poder de alguém que introduz um dedo dentro do seu ânus e conclui se você tem ou não possibilidade de ter câncer de próstata? O que dizer, depois de tudo isso que escrevi, que o tal sujeito ainda quer lhe cobrar por fazer esse tipo de coisa?
Comecei esse artigo dessa maneira mais grosseira para dizer que nós, médicos e nossos “poderes”, habitamos o inconsciente das pessoas. Isso é assim desde que o mundo é mundo! Brincadeiras sexuais de criança levam o nome da nossa profissão...ditados como “de médico e de louco” atravessam o tempo sem saber quem inventou e por aí vai, né?
“Pois é, Milton... grande coisa... e daí?” Daí o seguinte, meus colegas: apesar de parecer conversa do tipo “chover no molhado” esse meu tipo de discurso tocou só naquilo que é senso comum, né? E a outra parte? E o custo de tudo isso? E o preço de sustentar na sociedade esse tipo de visão?
Sabem o que acontece? Vou dizer a vocês! Acontece que o tal “sujeito” lá do primeiro parágrafo deve ser alguém “acima do bem e do mal”, né? Como pode, no imaginário universal, um médico ter contas a pagar? Como pode um de nós se deprimir? Como pode um médico beber demais, ficar com tesão, ou precisar dormir, hein??
Se tudo isso que pergunto aqui faz parte da nossa condição humana e não é reconhecido, como esperar dos brasileiros o entendimento sobre falta de hospitais, de medicação, exames, plano de carreira... enfim, dessa nossa conversa toda que vocês conhecem muito melhor do que eu?
Vejam bem, escrevo esse artigo com um propósito muito simples – provar de maneira irrefutável ao “movimento médico” que “contar com o apoio da população” para nos ajudar contra os petralhas é um absurdo sem nome!
Meus colegas, no início dos tempos, nós sequer tínhamos salários... Nós começamos nossa história vivendo dentro de palácios e hoje acabamos no Facebook (já escrevi sobre isso uma vez). Não há, eu repito, não HÁ chance alguma de pessoas comuns nos entenderem. Estou escrevendo isso em Porto Alegre com uma temperatura de 6 graus positivos...
Em Manaus, essa hora da manhã, o calor já é um verdadeiro inferno...nem mesmo nosso português é parecido... Mas vocês sabem o que nos torna iguais? Eu explico – em alguma emergência imunda, tanto aqui quanto no Amazonas, algum de nós está quase duas noites sem dormir e envolvido com alguém numa maca velha que deveria estar dentro de uma UTI e provavelmente em ventilação mecânica!
Os malditos petralhas, alguns nossos colegas, sabem disso mas a família dessas pessoas não. Para eles esse papo de transferência, de cuidados intensivos, de falta de leitos ou de material não importa coisa alguma! Eles jamais vão entender o que sentimos ao vermos uma pessoa morrer por responsabilidade de um Estado criminoso. Para 90% da população brasileira, tudo é uma questão de “boa vontade dos médicos”!
Apelo a vocês aqui – ajudem a acabar com isso! Mostrem aos brasileiros o tamanho dessa fraude chamada SUS...desse sistema imundo de saúde criado para atender “brasileiros de segunda categoria” com uma “medicina de terceira”. Não ataquem somente os petralhas mas mostrem aos pacientes que o próprio SUS nasceu com eles... Com gente do Partido Comunista que esteve em Alma Ata em 1979 e trouxe esse delírio aqui pra nós. Insistam que enquanto uma pessoa de bem, que trabalhou a vida toda pagando seus impostos agora agoniza numa emergência imunda, assassinos e traficantes tem leitos disponíveis de graça em qualquer UTI do nosso país!
Meus amigos, chegou a hora de dizermos claramente as pessoas que saúde não é uma questão médica! Que saúde não é uma questão de higiene! Que saúde não é uma questão de educação nem de saneamento! SAÚDE NO BRASIL É UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA! Ou terminamos com mentiras que colocam esse elefante sobre nossos ombros, ou vamos continuar sendo atacados para sempre.
Nós mesmos ajudamos a inventar esse monstro chamado SUS... Essa aberração defendida por quem afirma que “qualquer atendimento é melhor do que nenhum” (desde que para si e sua família seja o melhor de todos, né?) Agora estamos sendo esmagados! Um bando de “profissionais da saúde” (certamente a minoria deles mas politicamente muito ativos) recalcados por não terem sido médicos está nos estraçalhando “em tempo real”.
Um governo de mensaleiros e assassinos de prefeitos está usando disso para dar força ao “Mais Médicos” e a população está caindo no jogo deles... Apelo desesperadamente mais uma vez – não se trata aqui de salário, plano de carreira ou condição de trabalho. É a própria profissão que está em jogo! É conosco que esses bandidos querem acabar... Eles sustentam que somos uma raça de mercenários, acima da vida e da morte que não dá “a mínima para os seus pacientes”... Conseguiram o que queriam – nossa Medicina está doente!
Porto 26 de julho de 2013 Milton Simon Pires é Médico.
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