Na chegada, o carro do papa Francisco espremido entre táxis e ônibus, num baita engarrafamento na avenida Presidente Vargas, centro do Rio, enquanto na larga pista ao lado, interditada, não se via uma única bicicleta. Um vexame inexplicável.
Logo mais, no Palácio Guanabara, a presidente Dilma, em vez de um singelo discurso de boas-vindas ao papa, puxou e leu um discurso maior do que o da grande estrela do evento. Faltou "semancol".
Na mesma noite, enquanto o mundo queria saber a quantas andava o papa no Brasil, o que se via era uma guerra campal entre policiais, vândalos e infiltrados de toda ordem. Uma violência vergonhosa.
No dia seguinte, milhares de repórteres do mundo inteiro se esfalfavam para registrar os preparativos do grande evento, enquanto cariocas e não cariocas amargavam horas de pane no metrô da cidade anfitriã. Competência zero.
Ontem, com tudo vistoriado e checado, veio a grande conclusão: impossível fazer a missa de encerramento em Guaratiba, no Rio. O local virou um mar de lama às vésperas do "gran finale". A culpa é só da chuva?
Em meio a tudo isso, as notícias domésticas nos governos e na mídia são desanimadoras: rombo histórico nas contas externas, emprego desacelerando, arrecadação devagar, quase parando. Os brasileiros gastaram mais de US$ 12 bilhões lá fora no primeiro semestre, e os estrangeiros gastaram aqui menos em junho de 2013 do que em junho de 2012 --apesar da Copa das Confederações. O paraíso evapora.
Segundo o "New York Times", houve "tensão, erros e protestos (contra Sérgio Cabral)" durante a visita do papa. E o "Chicago Sun-Times", da cidade derrotada pelo Rio para a Olimpíada, indaga, provocativo: "Perdemos para isso?".
Quando dão certo, papa, Copa e Olimpíada são alavancas eleitorais poderosas. Quando dão errado, o efeito é proporcionalmente inverso.
26 de julho de 2013
Eliana Cantanhede, Folha de São Paulo
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