O governo insiste num jogo perigoso ao conter politicamente os preços dos combustíveis para frear o índice de inflação - apenas o índice, porque em algum momento será preciso soltar os preços reprimidos ou pagar muito caro por distorções geradas por essa política. O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, pediu na segunda-feira um ajuste de preços para financiar os enormes investimentos da empresa e frear sua crescente dependência de recursos de terceiros.
O governo examina o assunto, disse no dia seguinte o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, com duas ressalvas: não é bom elevar os preços nem há garantia de autorização do aumento pelo governo. A estatal só pode cobrar mais se a mudança for decidida por seu Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Manter a tabela desatualizada é uma forma fácil, mas custosa, de atenuar as pressões de custos sobre a produção e sobre o bolso dos consumidores.
O governo tem abusado desse recurso, com perdas importantes para a Petrobras e, durante vários anos, para as empresas produtoras de etanol, porque as proporções entre os preços dos combustíveis foram desfiguradas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionou com insistência o governo dos Estados Unidos para abrir o mercado americano ao etanol estrangeiro. Quando isso ocorreu, os produtores brasileiros estavam despreparados para vender, porque os investimentos no setor haviam encolhido.
Sob nova direção, a Petrobras conseguiu algum aumento de preço durante o governo da presidente Dilma Rousseff, mas sem eliminar os desajustes acumulados num longo período. Os desajustes aumentaram, recentemente, com a alta do dólar e o encarecimento dos combustíveis importados.
O próprio aumento da importação foi uma consequência dos desarranjos causados à empresa pela intervenção política em sua administração. A demanda tem crescido, há alguns anos, bem mais velozmente que a produção interna, prejudicada por erros de planejamento, mau uso do dinheiro e contenção política de preços.
A defasagem entre preços internos e externos da gasolina está entre 22% e 23,5%, segundo especialistas. A diferença, no caso do diesel, chega a 24%. Esse desajuste afeta a geração de caixa e torna a empresa mais dependente de financiamentos.
A dependência já superou ou está quase superando os limites adotados pela empresa, segundo vários indicadores calculados pelos analistas. A companhia poderá ser rebaixada pelas agências de classificação de risco se a sua saúde financeira continuar em deterioração, segundo se especula no mercado financeiro. Hoje a estatal detém grau de investimento.
Apesar de suas dificuldades, a Petrobras tem sido responsável por cerca de 90% dos investimentos realizados pelas estatais. Mesmo sem as possibilidades abertas pela descoberta do pré-sal, sua importância estratégica seria enorme. O governo parece desprezar esse dado, ao insistir numa política danosa para as finanças da empresa.
Câmbio e preços dos combustíveis agravam de fato as pressões inflacionárias, mas só reprimir os preços dos combustíveis de nenhum modo resolverá o problema. A inflação, ainda elevada, resulta de combinação muito mais ampla de fatores, mas a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda têm preferido agir como se vivessem noutro mundo.
Fariam bem se levassem a sério as observações feitas na segunda-feira pelo diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo. Segundo ele, a inflação baixa de julho (0,03%) resultou de fatores excepcionais e de nenhum modo indica uma tendência.
A evolução dos dados mensais de 2013 deve ter a forma de um V, com quedas até julho e altas a partir daí. O acumulado no ano poderá ficar abaixo dos 5,84% de 2012, mas ainda será elevado. A tendência expansionista das contas públicas continua sendo um dos fatores da alta de preços. Não se combaterá a inflação com mais perdas para a Petrobrás. Isso apenas agravará os problemas do País.
14 de agosto de 2013
Editorial de o Estado de São Paulo
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