"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 8 de julho de 2012

ACORDA, DILMA! ELES ENLOUQUECERAM!

Em 1968, quando os tanques russos invadiram Praga, pondo fim a um movimento libertário que tomou conta do povo tcheco, a última resistência foi na universidade local. Atacados, antes de render-se, os estudantes escreveram no muro: “Acorda, Lênin! Eles enlouqueceram!”

Recorda-se o episódio porque uns por presunção, outros por cautela, os principais auxiliares econômicos da presidente Dilma evoluem sobre o conteúdo da segunda metade de seu governo. O que fazer, o que mudar, o que conservar?

Aqui mora o perigo, porque dando como certas algumas mudanças, ministros e dirigentes do PT demonstram arrogância e já tentam enquadrar o futuro conforme suas novas tendências e seus atuais compromissos. Começam a ameaçar com mais ajuste fiscal, mais sacrifícios, talvez mais neoliberalismo, depois da temporada de benesses e benefícios promovida no governo Lula.

Chega a ser agressiva a postura adotada pela equipe econômica, esperançosa de continuar e incapaz de perceber chegada a hora de mudar de vez o modelo que nos assola desde os tempos do sociólogo. Pregam tudo o que faz a alegria dos potentados, dos banqueiros e dos especuladores, esquecendo-se da classe média e até se preparando para retirar das massas o alpiste oferecido há pouco como embuste eleitoral. Senão vejamos:

Prevêem, os áulicos de Dilma, que desta vez virá a reforma da Previdência Social. Traduzindo: vão restringir direitos dos aposentados, desvinculando de uma vez por todas do salário mínimo os vencimentos de quem parou de trabalhar. Pensionistas, aposentados do INSS e inativos do serviço público que se virem, porque receberão sempre menos do que os funcionários e trabalhadores em atividade. Quem mandou envelhecer? Ao mesmo tempo, serão descontados como se disputassem novas aposentadorias, sabe-se lá se no céu ou no inferno.

Em paralelo, evidencia-se que os reajustes do salário mínimo vão minguar. Jamais acontecerão nos níveis de anos de eleições presidenciais. No máximo, encostarão na inflação, mas, mesmo assim, na dependência de os juros baixarem. Quer dizer, os responsáveis pelos juros ainda altíssimos são os assalariados e os aposentados, não os especuladores e os banqueiros cujos lucros, em todas essas previsões, só farão crescer.

No capítulo das reformas diabólicas, asseguram que desta vez virá a reforma trabalhista. Para restabelecer direitos surripiados nos oito anos de Fernando Henrique? Nem pensar. Virão para extinguir as poucas prerrogativas sociais que sobraram. Por exemplo: vão acabar com a multa por demissões imotivadas e vão autorizar o parcelamento em doze vezes ao ano do décimo-terceiro salário e das férias remuneradas. Como a cada ano os salários e vencimentos perdem parte de seu poder aquisitivo, em poucos anos as parcelas estarão incorporadas à perda, ou seja, desaparecerão.

Outra iniciativa a assolar o país na segunda parte do mandato de Dilma será a contenção dos gastos públicos, atendendo a exigências do poder econômico. Não apenas demissões e não reposição de vagas no serviço público, mas a retomada do processo de privatizações. Como também cortes em investimentos de infraestrutura, saúde, educação, habitação e congêneres.

Ninguém se iluda se, a prevalecer a cartilha dos neoliberais incrustados no governo, logo voltar a deletéria proposta da privatização da parte da Petrobrás que continuou pública, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e até dos presídios. Nada melhor do que, para atender as exigências do PCC, do CV e congêneres, vender as cadeias à iniciativa privada. Algumas vão virar hotéis de cinco estrelas, para os bandidos que puderem pagar. O resto que se vire…

Numa palavra, ainda que verbalmente, os auxiliares econômicos da presidente Dilma estão tramando. Trata-se da repetição de que desenvolvimento e crescimento econômico acontecerão às custas dos mesmos de sempre, porque está guardada para o fim a maior de suas pérolas: reconhecendo que a carga fiscal anda insuportável para quem produz e para quem vive de salário, voltam a prometer que na reforma tributária em gestação farão com que “mais cidadãos paguem impostos, para que todos os cidadãos possam pagar menos”.

Trata-se do maior embuste produzido por esses embusteiros. Significa que o pobrezinho, até hoje livre de impostos por não ter o que comer, começará a pagar com um único objetivo oculto: aliviar a carga fiscal daquele que pode pagar e que ficará profundamente agradecido por pagar menos.
Diante dessas previsões, só resta mesmo gritar aos sete ventos: “Acorda, Dilma! Eles enlouqueceram!”
Carlos Chagas

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