Interessante matéria de Monica Bergamo, na Folha de São Paulo de hoje, com o titulo "Maluf pisou na bola":
A aliança do ex-prefeito com Lula machucou o coração de seus eleitores. Mas ele confia na fidelidade do grupo: "O malufista é um estado de espírito. E não vai mudar".
"Doutor Paulo pisou na bola. Não deveria ter feito o que fez." Desde que o deputado Paulo Maluf (PP-SP) apareceu sorridente na já célebre foto ao lado do ex-presidente Lula, há três semanas, o taxista Celso Mamud está inconformado. "A maioria dos eleitores do PT são 'badernistas'", diz ele. Mamud é o taxista mais antigo de seu ponto, na avenida Guilherme Cotching, na Vila Maria (zona norte). Trabalha há quase três décadas no mesmo lugar. E diz que nunca gostou dos "vermelhos". Na campanha presidencial de 2010, se irritava com passageiros petistas que provocavam: "Vamos fazer greve geral, bagunçar".
A maioria dos colegas de Mamud é malufista. Mas Bigodinho, como o chamam, sempre foi o maior escudeiro. Para ele, a aliança do PP com o governo Dilma Rousseff já era ruim. E Maluf piorou tudo ao sacramentar o "matrimônio" com Lula e seu candidato a prefeito, Fernando Haddad. "O negócio do PT é ir no Nordeste e dar R$ 50 para aquele povo de ignorantes, que tem dez, 50 filhos."
As repórteres Anna Virginia Balloussier e Olívia Florência correram os bairros da Vila Maria e do Tucuruvi na semana passada para tirar o pulso do malufismo em relação à aliança de seu líder maior com Lula. Como os petistas, eleitores do ex-prefeito não estão engolindo esse sapo com facilidade.
Nei Pita, 47, dono de uma loja de pisos e decoração na avenida Guapira, no Tucuruvi, era janista e depois virou malufista, "por causa da segurança". Já tinha ouvido falar que o ex-prefeito se aliara a Lula, mas ainda não tinha visto a foto dos dois nos jardins da casa de Maluf. "Não gostei disso, não", reagiu, ao ser apresentado à imagem. "Eu me sinto traído", diz o comerciante. "Ele sempre falou mal da Marta [Suplicy] e agora faz aliança com ela? Ele tá ficando velho e doido. Os malufistas nunca vão votar no PT." Nei, que é evangélico, diz que votará em Celso Russomano (PRB-SP) para prefeito e que jamais apoiaria Haddad. "Eu não voto nesse cara desde a história dos kits gays [filmes contra a homofobia que estavam sendo elaborados pelo Ministério da Educação na época de Haddad]." Também não sabe se votará em Maluf novamente. "Vou pensar."
O militar Edson Oliveira, 50, é outro "traído" que pode abandonar Maluf. "Sempre votei, com ele bandido não tem vez. Mas [agora] acho que não. Ainda preciso pensar." "Vota, sim! O sujeito não gosta [da foto com Lula], mas continua votando em mim. Ah, mas não tenha dúvida", reage Maluf. "E quando eu der as razões pelas quais apoio Haddad, vão votar nele também." O ex-prefeito diz que seus eleitores vão acabar entendendo que "o Lula é um homem viajado, do primeiro mundo. Não é o mesmo de 20 anos atrás, esquerdista. Se fosse, teria desgraçado o Brasil. Ele mudou. E quem não se recicla, se fossiliza".
"Mesmo me sentindo traído, continuo votando no Maluf", diz João Gouveia, 46, dono da lanchonete Estação Tucuruvi, confirmando a previsão do líder. "Muito homem é traído e volta com a mesma mulher." "É questão de jogo de cintura, o Maluf tem que cuidar dos interesses dele também." Lázaro Morais, que cresceu na Vila Maria e por lá estabeleceu uma autoescola, vai na mesma direção. "Lula tá mostrando que Maluf é tão bom quanto ele."
A empresária Marcia de Marco balança a cabeça negativamente quando vê a foto do líder do PP com o petista. Mas também confia no tino político de Maluf. Entre um gole de cerveja e uma mordida em seu bife acebolado, num fim de noite na Vila Maria, diz: "Deve ter motivo. Lula mostrou para ele alguma coisa de bom". Ainda assim, não consegue simpatizar com o ex-presidente. "Da Dilma, eu tô gostando". Lula também não passa na garganta de Sandra Cardoso, 50, dona de um salão de beleza no Tucuruvi. "Ficou ruim para os dois", diz ela diante da foto dele com Maluf. Já o candidato Fernando Haddad é palatável. "É um homem culto, tem educação. Vou votar nele por causa do Maluf." E completa: "Se estivesse no PSDB, ele já estava eleito".
A aposentada Maria Nobli, 75, é uma das poucas que não faz ressalva alguma ao acordo entre os ex-rivais. "Gosto da aliança, por causa do Maluf. Vou votar no Haddad por causa dele. Quando estava no governo, era polícia na rua, agora tá um perigo, todo lugar tá perigoso." "Gostei do Maluf porque saiu por cima. Agora vai fazer o Lula subir no palanque com ele. A gente não precisa mais assistir [aos programas de TV] 'Pânico', 'Zorra Total'. É só ver o horário político que já tem comédia", diz Luís Siqueira, 46, dono de uma loja de ferramentas que já foi malufista e que hoje vota nulo.
Manoel de Oliveira, 33, formado em educação física e atualmente desempregado, desconfia que petistas tramam "o impeachment político do Maluf". Ao propor uma aliança com ele, tentam na verdade desgastá-lo para afastá-lo da vida pública. Ele se irrita com quatro senhores que, enquanto jogam dama numa praça da Vila Maria, caçoam do recente "namorico" de PT e PP. "O povo é todo safado, sabe que Paulo Maluf fez muito por eles." Exemplo: "Muitas obras".
Já o taxista Gerson Carreteiro, eleitor "desde sempre" do ex-prefeito, diz que, "pelo que conheço do Paulo, essa dupla [com Lula] pode acabar a qualquer momento". Ele preferia ver o líder no palanque de José Serra, candidato a prefeito pelo PSDB. "O problema do Lula era aquilo: cada escândalo que estourava, era um 'não sei, não vi'." Sobre as denúncias contra Maluf, ele diz: "Nada provado -realmente provado".
"Olha, minha querida, vou falar pra você: acho que não tem um político no Brasil que não tenha roubado", diz Luiz Pimentel, dono de um estacionamento. Outro "malufista roxo", ele minimiza o velho bordão "rouba, mas faz", que surgiu nos anos 50 associado ao ex-prefeito Adhemar de Barros e que depois foi usado contra Maluf. Enquanto Pimentel petisca seu lanche, um garçom concorda, baixinho: "Pior é o PT, que rouba, mas não faz".
"E os que dizem que não roubam mas não fazem nada? Eu nem sei se o Maluf rouba, ele não tá preso até hoje, tá?", questiona João Gouveia, da lanchonete Estação Tucuruvi. "Pelo menos ele traz algum retorno. Para mim, especificamente, ele construiu a ponte do Mar Pequeno, que facilitou a ida para a Praia Grande, eu tenho casa lá. E aqui na zona norte faltava água. Inclusive na minha casa tem quatro caixas de água de mil litros cada. Ele fez obra na reserva da Cantareira e hoje tem água todo dia."
"O malufista é um estado de espírito", diz Paulo Maluf. "Ele quer ver um viaduto ser construído e não cair, quer ver um túnel ser feito e não inundar. O malufista quer ver os seus problemas resolvidos. E não vai mudar."
07 de julho de 2012
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