Foi Bob Dylan(foto), o genial cantor de música folk e country americana, que anunciou certa vez: “Os tempos estão mudando”. Dylan hoje parece que virou peça de museu diante de uma “nova” juventude, totalmente desacostumada a não mais refletir e apenas cultuar o distanciamento da leitura via internet. Uma pena. Dylan foi um profeta. E não há nenhum outro artista pop que tenha cantado tão bem a cabeça do verdadeiro jovem que já sonhou em mudar o mundo como ele.
Acostumados que estamos hoje, aqui no Brasil, a ouvir Roberto Carlos cantar as glórias do “cara”, fica difícil imaginar, para o jovem de hoje, totalmente narcisista, a quem perder algo é o fim, para quem se vê derrotado é o fim da linha, não imagina uma música como a escrita por Dylan intitulada “It Ain’t Me Babe”, que numa tradução totalmente livre e despretensiosa poderia ser lida como “Não sou eu, garota”, que seria o oposto do “cara” de Roberto Carlos.
Vale a pena alguns trechinhos de “It Ain’t Me Babe” que já foi interpretada por grandes músicos americanos: “saia da minha janela, vá na velocidade que preferir. Eu não sou quem você quer, garota, eu não sou quem você precisa. Você diz que está procurando por alguém jamais fraco, mas sempre forte, pra te proteger e te defender, estando certa ou errada. Alguém que vá abrir todas as portas, mas esse não sou eu, garota, não, não, não, não sou eu, garota, não sou eu que você está procurando, garota”.
A música “It Ain’t Me Babe” é de uma sonoridade impar e divinamente interpretada por Joan Baez, virou um dos grandes hits e sucessos dos anos 70. Mas Dylan cantou as esperanças e as desesperanças de uma certa época. Impingiu em todos aqueles que o acompanhava em suas canções monumentais a ideia de que talvez o mundo tivesse jeito, a começar pelo clássico “Blowin’ In The Wind”, que em tradução pode ser lida como “Soprando ao vento”, ou então em geniais composições como “Like a rolling stone”, numa tradução direta, “Como uma pedra rolando” que também como outro grande clássico e excepcional letra vale uma pequena mostra da tradução e do que esse poema: “Houve uma época que você se vestia tão bem, você atirava para os vagabundos um centavo no seu auge. Pessoas anunciavam, tome cuidado que você pode cair. Mas você pensava que estavam todos brincando com você, todo mundo desperdiçando tempo. Agora você não fala tão alto, agora você não parece tão segura”.
Dylan foi o poeta das grandes imagens, das grandes sacadas sobre a subida e descida do homem, do céu ao inferno. Depois dele não há nada mais a acrescentar. Foi a última palavra. Como já se disse, é possível que Elvis tenha sido mesmo o rei do rock, ou que os Beatles mudaram o cenário da musica mundial, ou mesmo que o grupo Rolling Stone tem sido infernal, mas quem tirou mesmo leite de pedra foi Dylan com suas letras imensas e geniais.
Tudo isso pode ser verdade, e até em muito sentido é, de fato sobre os grandes “rivais” de Dylan. Mas não há dúvida que foi ele, Bob Dylan o sujeito capaz de transformar vinagre em vinho tal a maestria de suas letras e composições. Tal qual todo profeta judeu (Dylan é judeu) Dylan despejou com seus versos palavras imperdoáveis, duras, relatando a hipocrisia da alta sociedade, gente que pensa que está por cima, mas que a queda chega.
E eu não conheço nenhuma outra letra de protesto igual a “A Hard Rain’s A-Gonna Fall”, em tradução “Uma Chuva Forte Vai Cair”. Escutem e leiam Bob Dylan, ainda é tempo.
14 de maio de 2013
Laurence Bittencourt, jornalista
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