"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

MPF RECEBE DEPOIMENTGO DE VALÉRIO SOBRE LULA, CHEFE DA GANGUE DO MENSALÃO

Documento foi encaminhado para o Núcleo do Patrimônio Público onde será analisado
 
O Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais recebeu nesta quinta-feira à tarde o depoimento do operador Marcos Valério envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o escândalo do mensalão.
O documento foi encaminhado para o Núcleo do Patrimônio Público onde será analisado.

Conforme adiantou O GLOBO em 8 de fevereiro, os procuradores do MPF mineiro vão analisar se há conexão do expediente enviado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com os processos batizados de “filhotes do mensalão”, que já tramitam na Justiça Federal em Minas.

Caso contrário, haverá uma distribuição por sorteio que pode gerar a instauração de uma nova investigação ou até mesmo o arquivamento do caso se ficar provado que as acusações de Valério não têm fundamento. O MPF diz que a análise requer tempo.
 
Como o ex-presidente perdeu a prerrogativa de foro privilegiado do cargo, Gurgel enviou para Belo Horizonte, onde Valério tem residência fixa e presta depoimentos em outros processos, como do mensalão mineiro, que ainda está na fase de oitiva de testemunhas.

Filhotes do mensalão

No período de 2006 até 2010, o MPF mineiro ajuizou cinco ações penais derivadas do processo do mensalão do PT. Os processos ficaram conhecidos como filhotes do mensalão. Em três casos, houve condenação em primeira instância, sendo que em um deles, o nome do ministro Fernando Pimentel é citado em acusação de desvio de recursos de convênios da Prefeitura de BH, na época em que o petista era prefeito, para saldar dívidas de campanha do PT.

O ministro não virou réu, sendo que os condenados, neste caso, foram os empresários Glauco Diniz e Alexandre Viana, apontados como os responsáveis por abastecer a conta do marqueteiro Duda Mendonça, no exterior, na campanha de 2002, quando Lula se elegeu a primeira vez.

Segundo a sentença, Pimentel era o prefeito de BH em 2004, oportunidade em que fez convênio sem licitação com a Câmara de Dirigentes Lojistas de BH (CDL-BH) para implantação de um sistema de vigilância na cidade.
Glauco Diniz e Alexandre Vianna eram diretores da CDL. Inicialmente, o valor do contrato era de R$ 14,7 milhões, sendo que R$ 4,4 milhões foram repassados pela prefeitura.

O convênio, segundo a sentença judicial, possui indícios de superfaturamento e dispensa irregular de licitação. Por causa da suspeita, Pimentel virou réu numa ação remetida ao Supremo Tribunal Federal (STF), porque ele tem foro privilegiado, por ser ministro.

Em outra ação, o MPF conseguiu a condenação da cúpula do BMG, do ex-presidente do PT, deputado condenado José Genoino, e do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.
De acordo com o processo, o BMG liberou mais de R$ 43 milhões “mediante empréstimos simulados” ao PT e às empresas Valério. Em troca, o partido abriu as portas do crédito consignado para os banqueiros mineiros.

Em outra, foi Valério e seus ex-sócios nas agências DNA Propaganda e SMP&B quem foram condenados em primeira instância. As outras duas ações, que ainda não foram julgadas, envolve banqueiros e funcionários do primeiro escalão do Banco Rural.

Recentemente em BH para participar de um evento contra a condenação do réus do mensalão e de ataques a imprensa e ao STF, o ex-ministro José Dirceu afirmou nunca ter se encontrado com Valério, mas evitou defender o ex-presidente Lula.

“Não tem uma prova de relação minha com o Marcos Valério. Nunca peguei na mão dele, nunca conversei com ele. Ele foi na Casa Civil representando duas empresas, mas nem sabia quem era ele. Essa é uma questão de caixa dois, de compra de votos, nós temos que prestar contas, mas não tem nada de maior escândalo da história do país”, afirmou.

14 de fevereiro de 2013
Ezequiel Fagundes - O Globo

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