Era difícil a vitória dela contra José Serra e Marina Silva, mas o cacife de Lula era tamanho que ele se garantia e, por isso, insistiu em eleger o poste.
Além do mais, o então presidente nada tinha a perder, em seus planos políticos. Se Dilma fracassasse, Lula tinha total convicção de que estaria gloriosamente de volta ao Poder em 2014.
Se Dilma ganhasse, como terminou acontecendo, nenhum problema, porque a criatura não iria se virar contra o criador e abriria mão da candidatura à reeleição para garantir a vaga dele, Lula, o primeiro e único.
E nem era preciso haver um contrato formal (como o firmado entre Roberto Saturnino e Carlos Lupi na eleição de 1998, que acabou descumprido por influência do então líder no Senado, Aluizio Mercadante). Entre Lula e Dilma era um acordo tácito, óbvio e implícito, porque o criador do PT eleitoralmente estava com tudo, Dilma não era nada.
Um plano perfeito que daria certo para Lula em qualquer das duas eventualidades. Mas começaram a surgir os problemas. Primeiro, o câncer na garganta, depois os escândalos em série nos ministérios, o julgamento do mensalão, e agora o caso Rose, o processo do empréstimo consignado e também a nova denúncia de Marcos Valério, desta vez envolvendo diretamente Lula.
DESCOLANDO DE LULA
Diante dessa mudança do quadro político e com as pesquisas lhe garantindo uma aceitação popular realmente extraordinária, é compreensível que a presidente Dilma Rousseff não queira mais cumprir o acordo que era apenas tácito.
Aos poucos, ela vai descolando de Lula, os dois estão à beira do rompimento, mas continuam mantendo as aparências.
Lula ainda não tem condições de avaliar os danos à sua reputação devido ao prosseguimento do processo do empréstimo consignado, ao caso Rose e ao novo inquérito do mensalão, que desta vez vai correr na Procuradoria da República em São Paulo, pois Lula não tem mais foro privilegiado no Supremo.
Mas seu egocentrismo é tamanho que ele acha que nada o atingirá, continuará sendo o filho do Brasil, o pai dos pobres e a mãe dos ricos.
Mas há controvérsias. Dilma não faz a mesma avaliação. Em função dos telhados de vidro de Lula, ela acredita que já tem cacife até para enfrentá-lo cara a cara, criatura contra criador, batendo chapa. Mas sua candidatura à reeleição também é muito problemática. Sabe que, em disputa com Lula, jamais ganhará legenda no PT. Por isso, teve de esboçar um Plano B, com o auxilio do ex-marido, Carlos Araújo.
O PLANO B CHAMA-SE PDT
O tempo passa rapidamente e faltam menos de oito meses para o prazo fatal. Ele tem de trocar de partido um ano antes da eleição de 2014. A legislação eleitoral até a proíbe de deixar o PT, sob risco de cassação de mandato. Como se sabe, o Supremo já firmou jurisprudência no sentido de que o mandato pertence ao partido e não ao candidato.
Mas tudo na vida tem jeito, especialmente quando pode sobrevir na política o famoso “jeitinho brasileiro”. A própria legislação eleitoral abre a brecha, ao prever que o político pode trocar de legenda quando o programa de seu partido não estiver sendo obedecido.
No caso do PT, é fácil comprovar que o partido não vem cumprindo seu programa e seu ideário, e o Tribunal Superior Eleitoral não poderá cassar o mandato da presidente, que a essa altura já estará no PDT, seu partido de origem.
O movimento para embarcar no PDT já começou a ser feito pelo ex-marido Carlos Araújo, que pediu refiliação à legenda de Brizola. A princípio, a seção gaúcha do partido resiste e não quer aceitá-lo, mas não há nada que não se resolva com uma visitinha de Carlos Lupi, aquele que ama a Dilma, mas ainda não é correspondido.
Há também a aproximação de Dilma ao PSB, que é uma espécie de Plano C, mas isso é outro departamento…
14 de fevereiro de 2013
Carlos Newton
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