À medida que crescem especulações sobre quem será o novo líder de 1,2 bilhão de católicos do mundo, o Papa Bento XVI enfatizou que não vai participar da escolha de seu sucessor. Mas, de fato, ele não precisa soprar nos ouvidos dos cardeais para votar por um substituto que ele aprove.
Nos últimos sete anos, o Pontífice alemão encheu o corpo responsável pela eleição de seu substituto com conservadores que abraçam a ortodoxia religiosa de Bento XVI e que são igualmente céticos de seus irmãos liberais, que defendem que a Igreja Católica precisa desesperadamente de reformas radicais, se quiser perdurar neste século.
Dos cerca de 120 cardeais eleitores, que apresentarão seu voto sob os afrescos da Capela Sistina no próximo mês, Bento XVI nomeou 67. Os outros 53 foram nomeados por seu antecessor.
Apenas os cardeais com menos de 80 anos podem votar por um novo Pontífice no conclave papal. E justamente porque os cardeais tendem a ser idosos quando alcançam uma tal distinta posição há uma rotação inevitável do corpo eleitoral.
Assim, apesar do papado de Bento XVI ter durado apenas um quarto do de João Paulo II, ele possui significativamente mais aliados do que seu antecessor no Vaticano.
Especular sobre o mundo secreto e complexo das políticas do Vaticano é extremamente difícil quando um Papa morre. Mas hoje a Igreja Católica navega por águas incertas.
O Colégio dos Cardeais não teve que eleger um Papa com outro ainda vivo em mais de 600 anos, e apesar de Bento XVI ter insistido que se manterá acima da política, muitos analistas sugerem que os eleitores vão inevitavelmente se sentir pressionados a votar por um Pontífice que seja do gosto de Bento XVI.
John Allen, um analista do Vaticano, escreveu num artigo na terça-feira no “National Catholic Reporter”:
“Pelo menos alguns cardeais podem se sentir fortemente pressionados a não fazer algo que possa ser percebido como um repúdio ao papado de Bento XVI, ou que possa causar consternação a ele. Como isso poderá ser traduzido em termos de votos no conclave não está de todo claro, mas é uma peça do quebra-cabeças que vale a pena considerar.”
A escolha de Bento XVI não foi livre de controvérsia. Um bom número de veículos de mídia americanos — inclusive católicos — reagiram com indignação ao fato de que um cardeal de Los Angeles, que foi removido de seu posto acusado de ter ajudado a camuflar o caso de abuso sexual de um padre, será um dos que votará para escolher o sucessor de Bento XVI.
Cardeal Roger Mahoney deixou as funções públicas na semana passada em meio a acusações de que ele tramou para esconder acusações de autoridades da lei.
Durante seu papado, Bento XVI foi criticado por promover com frequência cardeais conservadores com um viés pró-europeu, apesar do fato de a maioria absoluta dos católicos no mundo viver em países em desenvolvimento.
Em janeiro de 2012, por exemplo, ele nomeou 22 novos cardeais. Quase todos já eram autoridades europeias no Vaticano, que tendem a ter bem menos experiência pastoral no mundo além da Cidade do Vaticano, e também ferrenhos partidários conservadores.
David Gibson, do Religious News Service, comentou à época: “Bento XVI está no coração de um Velho Mundo, um católico fora de moda da Baviera, e tanto ele quanto os cardeais que o elegeram acreditam que a Europa continua o berço da cultura católica.”
Fora da Europa, Bento XVI favoreceu conservadores com forte recomendações contra tradicionais posições liberais, tais como homossexualidade, contracepção, aborto e secularização.
O ultraconservador arcebispo de Nova York, Timothy Dolan, por exemplo, cresceu muito sob Bento XVI justamente por ser tão eloquente ao atacar o governo Obama em tais questões.
14 de fevereiro de 2013
Jerome Taylor é articulista do “Independent”
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