Não há aí, frise-se, nenhuma irregularidade nem prejuízo para alunos, mas convenhamos que é feio ser apanhado cozinhando números para aparecer melhor na fotografia. Em ciência, manipular dados é prática classificada como má conduta.
O caso se torna ainda mais abstruso quando se considera que ninguém obrigou o governo a adotar metas tão ambiciosas. Ao contrário, desde que o programa foi lançado, em 2011, as vozes mais sensatas vinham apontando para o exagero das dezenas de milhares de bolsas.
Eu próprio escrevi há pouco uma coluna sobre o assunto, citando levantamento da Folha que mostrou que 88% dos graduandos contemplados pelo Ciência sem Fronteiras se encontram em instituições de segunda linha, que não são melhores do que as boas universidades brasileiras. Quando o programa custa R$ 3,2 bilhões aos cofres públicos, esses aspectos são relevantes.
Apesar dessas críticas, é importante destacar que a filosofia do Ciência sem Fronteiras é corretíssima. Precisamos internacionalizar a ciência brasileira e o melhor caminho para isso é levar pesquisadores para fora e estimular a colaboração com instituições estrangeiras.
Em vez de embelezar números, entretanto, o MEC deveria reequacionar o programa, tornando-o mais modesto e eficaz. Para citar apenas um dos vários problemas que o cercam, muitos dos pós-graduandos que voltam não encontram uma posição acadêmica em que possam dar seguimento a suas pesquisas --o que equivale a jogar fora o investimento.
26 de abril de 2013
Folha de São Paulo
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