"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 10 de julho de 2013

A ESPIONAGEM, OS ESPERTALHÕES E O GRANDE SATÃ


Espionagem americana

O escândalo de espionagem envolvendo os EUA era justamente o que nosso governo precisava para desviar o foco de nossos gravíssimos problemas estruturais e fazer com que as manchetes deixassem de lado os escândalos, as mazelas, as mortes inocentes e os protestos para mirarem suas baterias midiáticas no “Grande Satã”, o inimigo maior de todo aspirante a totalitarista.
 
Permeado pela incompetência, pela corrupção sistêmica, pelo banditismo evidente e pela inoperância (criminosa) quase absoluta; o governo brasileiro viu cair do céu algo que atendia completamente as suas preces e está usando (e abusando) do deslize americano para desviar a atenção da mídia e o foco popular do que realmente interessa: nossa situação política e econômica interna cada vez mais caótica.
 
Se pararmos para pensar um único instante e analisarmos tudo o que se tem dito sobre o escândalo e as informações liberadas pelo próprio Sr Edward Snowden (o delator do esquema); toda essa balbúrdia e comoção se devem ao fato dos EUA usarem exatamente a mesma técnica de espionagem que o Google, o Yahoo, o Ponto Frio, o Submarino e as Lojas Americanas usam.
 
Guardadas as devidas proporções, quem usa a Internet hoje sabe que privacidade não existe. Basta você entrar num site de venda de móveis e pesquisar um modelo de sofá para que, em todos os seus próximos acessos, cada site que você visite tenha anúncios de sofás das mais diversas lojas.
 
Chamar isso de “espionagem” chega a ser um exagero. Mas, o “grande lance da coisa” é a questão das interceptações telefônicas isso realmente pode ser encarado como algo ruim. Contudo, pelo que Snowden revelou, elas também se restringem apenas a coleta de números discados ou recebidos; sem qualquer monitoramento do que foi conversado e os dados só são coletados se a primeira pesquisa indicar “atividade suspeita” de determinado “indivíduo”.
 
espionagem
 
Como sabemos, ainda pelas revelações de Snowden, a espionagem dos EUA se resume a ligar palavras-chave determinadas com dados de ligações telefônicas realizadas pelos “alvos”. Ou seja, se você pesquisar sobre bombas ou algo ligado ao terrorismo (ou a algo que os americanos julguem perigoso para eles) na Internet passará a ser monitorado pelo sistema americano por ser uma possível ameaça terrorista.
 
Isso quebra a sua privacidade?
Sim.
Mas, como o Google fica sabendo que eu gostaria de comprar um sofá para oferecer anúncios a cada site que visito?
Exatamente da mesma forma.
 
E quem fica gritando por aí que isso é uma violação de privacidade? Você pode até ficar zangado (eu mesmo fico “p” da vida com isso), mas a alternativa seria não usar mais a Internet.
Você está disposto a isso?
Eu não.
 
Por isso, sei que tenho de “pagar o preço”.
A grande verdade é que, depois do atentado de onze de setembro, o mundo mudou. Ninguém está seguro onde quer que esteja e a única chance de aumentarmos um pouco nossa própria segurança é usa de métodos como este.
Somente sendo capaz de antecipar o que o inimigo pensa e onde ele pode agir é que poderemos estar preparados para enfrentá-los ou impedi-los.
 
Infelizmente, vivemos em um mundo onde a privacidade será cada vez mais violada em nome de uma garantia maior de segurança. Pode acreditar; a coisa só vai piorar daqui para frente.
 
O quanto nos seria útil se nossas polícias fizessem exatamente a mesma coisa? Quantos crimes e violações da lei são tramados antecipadamente pela rede ou tem a comunicação entre as quadrilhas feita através dela? Cansamos de ver no noticiário mortes, brigas e outros crimes promovidos por bandidos que usavam a Internet como plataforma de preparação ou facilitador de comunicação. Quantos de nós achamos válido que a polícia monitore a rede atrás desses canalhas? Certamente a grande maioria.
 
O que podemos perceber de todo esse escândalo é que os países mais adiantados estão mirando suas baterias contra os EUA visando apenas obter vantagens econômicas sobre os americanos em negociações comerciais. O que é salutar, pois como os EUA estão expostos publicamente, é o momento propício para usar isso como moeda de troca.
 
O que não vemos é os demais países fazerem um “cavalo de batalha” disso. Ninguém foi a público dizer que isso era uma “quebra de soberania” ou que iria “se queixar na ONU”. Melhor ainda; ninguém usou isso como desculpa para oferecer asilo ao Sr Snowden.
 
Até porque esse senhor nada mais fez do que prestar um enorme serviço aos grupos terroristas e aos fanáticos religiosos espalhados pelo planeta. Digo isso sem o menor constrangimento e, se eu fosse americano e estivesse no lugar de Obama, já teria ordenado que esse senhor fosse fazer uma visita a São Pedro.
 
espião
 
Mas, voltando aos interesses tupiniquins; o que nosso governo está fazendo com o escândalo que bateu as nossas portas e poderia representar um enorme ganho econômico para nós no pesado jogo do comércio internacional? Enfiamos a cabeça na lama ideológica e nos portamos exatamente como Irã, a Venezuela, o Equador e tantos outros governos medíocres e com viés totalitário fazem: exacerbamos uma situação para eleger um “inimigo externo” que seja responsável por todo o mal que se abate sobre nós e acabamos perdendo uma grande oportunidade para a nação em troca de uma cortina de fumaça temporária para garantir um ou dois pontos de popularidade nas pesquisas eleitorais.
 
Assim, engana-se uma parcela da população que acredita em tudo o que a corja que aí está fala; ilude-se a mídia com um alarde exagerado sobre um fato sem todo efeito desastroso a ele imputado e se garante que o foco saia de nossas próprias mazelas como forma de ganhar tempo “para respirar”.
 
Você pode até achar ruim quando eu digo que é um fato sem tanta importância. Mas, mais uma vez, se você parar para pensar; o que os EUA fizeram (ou fazem) aqui; é exatamente o que fazemos por aí (na Argentina, na Venezuela, no Paraguai, nos EUA, etc…) e é o mesmo que todos os outros países fazem no mundo todo.
 
Afinal de contas, se nós temos a ABIN – Agência Brasileira de Informação – é para espionar nossos aliados e nossos inimigos. Da mesma forma que cada país tem seu centro de espionagem.
 
Se, contudo, não procedemos assim e preferimos nos candidatar a “Virgens Vestais” da humanidade; é porque somos idiotas, incapazes de assim proceder ou completamente despreparados para a realidade do mundo que nos cerca.
 
Portanto, ao invés de eleger o “Grande Satã” para cobri o sol com a peneira da ilusão ideológica; vamos voltar a nos concentrarmos em nossos problemas reais e imediatos para varrer a corja que tomou de assalto nosso país e é muito mais perniciosa para nós do que os espiões cibernéticos dos EUA ou do Google.
Pense nisso.
 
10 de julho de 2013
arthurius maximus

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