"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 10 de julho de 2013

FRACASSOS EM SÉRIE

 
 Os deuses da política sorriram para Dilma Rousseff. O escândalo internacional do monitoramento de telefones e internet dividiu o noticiário. De repente, governo e oposição ficaram juntos malhando os EUA pela espionagem sem limites aqui, no Brasil.
 
Há uma semana, o assunto em Brasília era o desgaste na popularidade presidencial. Agora, os telejornais estão cheios de imagens com mapas do mundo indicando o Brasil como alvo da bisbilhotice norte-americana. De vez em quando aparece um ministro ou a presidente dizendo que as ações dos EUA são inaceitáveis e que a ONU será acionada.
 
Melhor, impossível. É um clima similar ao da época em que tudo no Brasil era culpa do FMI. Como era bom ter um inimigo externo e terceirizar os problemas. No caso do monitoramento, pouco se fala sobre a fragilidade do sistema brasileiro de defesa cibernética. Ou menos ainda da impossibilidade prática de haver privacidade absoluta nesta era digital.
 
O fato é que até essa ajuda midiática inesperada está sendo insuficiente para oxigenar o governo Dilma Rousseff. A presidente continua coletando fracassos em série.
 
Dilma sugeriu uma constituinte exclusiva. A ideia foi demolida em menos de 24 horas. Ontem, o Congresso enterrou o plebiscito para fazer uma reforma política.
 
A nova polêmica é a importação de médicos e as mudanças nos cursos de medicina. Pelo menos parte desse plano poderia ter sido apresentado por meio de projeto de lei, mas o Planalto preferiu incluir tudo numa medida provisória. Sofrerá nas mãos de deputados e de senadores.
 
Dilma decidiu que precisaria agir e comprar algumas brigas. Primeiro, escolheu como alvo o Congresso. Agora, a corporação dos médicos. Antes, já enfrentava a má vontade de empresários e dos indignados nas ruas. Só não está claro até o momento quem serão os aliados da presidente em tantas batalhas.
 
10 de julho de 2013
Fernando Rodrigues, Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário