Ao contrário do que se imagina, o fato nem sempre é um taquígrafo frio que conta a história guiando-se pelo que ela tem de mais lógico. Por vezes, o fato tem pretensões literárias. Quando isso acontece, o improvável passa a ser o exato. O inacreditável é que é o verdadeiro.
Tome-se o caso dos boatos do Bolsa Família. Na versão oficial sobre o que se passou na Caixa Econômica Federal, personagens ordinários viveram uma sequência de fatos extraordinários. Coube ao presidente da Caixa, o petista Jorge Hereda, relatar o ocorrido.
Hereda reconheceu que a Caixa antecipou o pagamento de todos os benefícios da clientela do Bolsa Família. A instituição fez isso na sexta-feira que antecedeu o final de semana dos boatos sobre o fim do programa e sobre o falso abono que Dilma Rousseff jamais mandou pagar às mães pobres.
Segundo o companheiro Hereda, a decisão de mandar a dinheirama para os guichês antes da hora foi tomada pelo setor operacional da Caixa. Ele próprio, presidente da instituição, não foi avisado. Tampouco a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) foi informada.
Repetindo: nessa versão, tudo o que coube ao mandachuva da Caixa e à ministra do Bolsa Família foi o papel de figurantes. A turma do terceiro escalão decidiu sozinha antecipar os benefícios de mais de 13 milhões de brasileiros e achou que não devia nada aos superiores hierárquicos. Muito menos explicações.
Consumados os boatos e o sururu produzido por eles em 12 Estados, o vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa, José Urbano Duarte, veio à boca do palco para informar que a antecipação dos benefícios ocorrera no sábado, não na sexta. Agora, pilhado na inverdade, ele alega que também não sabia das decisões tomadas nos fundões da Caixa.
Hereda descobriu há uma semana que o diretor Jorge Urbano contara uma mentira à plateia. Por que diabos deixou que o noticiário desmascarasse a Caixa para, só então, reposicionar-se em cena? Era preciso reunir o máximo de informações antes de fazer um pronunciamento público, Hereda alegou, antes de pedir desculpas.
O relato do presidente da Caixa é tão extraordinariamente sensacional que merecia ser contado como boato, não como versão oficial. O ministro petista José Eduardo Cardoso (Justiça), superior hierárquico da PF, apressou-se em declarar que não considera verossímel a tese segundo a qual a lambança da Caixa pode ter alimentado as fofocas sobre o Bolsa Família.
Isso é que é governo eficiente! Ele mesmo se enrola, ele mesmo se investiga e, antes de concluir o inquérito, ele mesmo se absolve. Para completar a script, só falta a ministra petista Maria do Rosário (Direitos Humanos) assumir o papel que lhe cabe –o de estenógrafa ascética— para resumir todo esse drama barato nos 140 caracteres do Twitter.
28 de maio de 2013
Josias de Souza - UOL
Tome-se o caso dos boatos do Bolsa Família. Na versão oficial sobre o que se passou na Caixa Econômica Federal, personagens ordinários viveram uma sequência de fatos extraordinários. Coube ao presidente da Caixa, o petista Jorge Hereda, relatar o ocorrido.
Hereda reconheceu que a Caixa antecipou o pagamento de todos os benefícios da clientela do Bolsa Família. A instituição fez isso na sexta-feira que antecedeu o final de semana dos boatos sobre o fim do programa e sobre o falso abono que Dilma Rousseff jamais mandou pagar às mães pobres.
Segundo o companheiro Hereda, a decisão de mandar a dinheirama para os guichês antes da hora foi tomada pelo setor operacional da Caixa. Ele próprio, presidente da instituição, não foi avisado. Tampouco a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) foi informada.
Repetindo: nessa versão, tudo o que coube ao mandachuva da Caixa e à ministra do Bolsa Família foi o papel de figurantes. A turma do terceiro escalão decidiu sozinha antecipar os benefícios de mais de 13 milhões de brasileiros e achou que não devia nada aos superiores hierárquicos. Muito menos explicações.
Consumados os boatos e o sururu produzido por eles em 12 Estados, o vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa, José Urbano Duarte, veio à boca do palco para informar que a antecipação dos benefícios ocorrera no sábado, não na sexta. Agora, pilhado na inverdade, ele alega que também não sabia das decisões tomadas nos fundões da Caixa.
Hereda descobriu há uma semana que o diretor Jorge Urbano contara uma mentira à plateia. Por que diabos deixou que o noticiário desmascarasse a Caixa para, só então, reposicionar-se em cena? Era preciso reunir o máximo de informações antes de fazer um pronunciamento público, Hereda alegou, antes de pedir desculpas.
O relato do presidente da Caixa é tão extraordinariamente sensacional que merecia ser contado como boato, não como versão oficial. O ministro petista José Eduardo Cardoso (Justiça), superior hierárquico da PF, apressou-se em declarar que não considera verossímel a tese segundo a qual a lambança da Caixa pode ter alimentado as fofocas sobre o Bolsa Família.
Isso é que é governo eficiente! Ele mesmo se enrola, ele mesmo se investiga e, antes de concluir o inquérito, ele mesmo se absolve. Para completar a script, só falta a ministra petista Maria do Rosário (Direitos Humanos) assumir o papel que lhe cabe –o de estenógrafa ascética— para resumir todo esse drama barato nos 140 caracteres do Twitter.
28 de maio de 2013
Josias de Souza - UOL
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