Roberto Civita, diretor editorial e presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril, foi velado nesta segunda-feira no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, São Paulo.
Em cerimônia privada, Giancarlo Civita, filho mais velho do editor, homenageou o pai:
“Nosso pai era um entusiasta do Brasil. Ele acreditava no Brasil. Durante toda a sua vida ele mostrou em atos e palavras que uma nação de verdade, viável e justa, não nasce ao acaso. Ela precisa ser construída.
Ele tinha certeza de que as ferramentas para isso são a educação e a liberdade de expressão. A esses dois fundamentos, que ele via como inseparáveis, nosso pai dedicou sua vida. Como seus filhos, reiteramos o compromisso que já havíamos estabelecido com ele, de perseverar na busca da verdade, na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros e no fortalecimento das instituições democráticas no Brasil”.
Duas mil pessoas compareceram ao velório, entre políticos, empresários, amigos e familiares. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foram alguns dos presentes.
“Era um homem de coragem e de vanguarda. Tinha amor pelo Brasil, obsessão pela verdade e crença inabalável na liberdade de imprensa”, afirmou o governador. “Era uma pessoa muito centrada na ideia de que a educação faria a diferença no desenvolvimento nacional”, disse o prefeito.
”Roberto Civita foi a mais sofisticada combinação de empresário e editor que eu conheci”, afirmou o presidente do Grupo Folha, Luis Frias.
Roberto Civita morreu aos 76 anos, às 21h41 deste domingo, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, devido à falência de múltiplos órgãos, depois de três meses internado para a correção de um aneurisma abdominal. Ele deixa a mulher Maria Antonia, os filhos do primeiro casamento Giancarlo, Roberta e Victor, além de seis netos e enteados.
Memória
“Gosto de ser editor e o que eu sei fazer é revista”, dizia Roberto Civita. Mesmo depois de 1990, quando a morte de Victor Civita o levou a assumir o comando da Abril e a chefiar o processo de diversificação do grupo fundado pelo pai, ele nunca se afastou da atividade que o seduziu definitivamente na década de 60, quando começou a pôr em prática os conhecimentos assimilados anos antes, na sua segunda temporada nos Estados Unidos.
Nascido em Milão, Roberto Civita morou em Nova York de 1939 a 1949, quando veio para São Paulo.
O bom desempenho no Colégio Graded garantiu-lhe uma bolsa de estudos nos EUA, onde percorreu, ao longo da década de 50, caminhos que o levariam à descoberta da vocação profissional e à volta definitiva ao Brasil.
Depois de interromper o curso de Física Nuclear na Universidade Rice, no Texas, para diplomar-se em jornalismo e economia na Universidade da Pensilvânia, Roberto Civita conseguiu um estágio na editora Time Inc, que controlava as revistas Time, Life e Sports Illustrated. Durante um ano e meio, familiarizou-se com todos os setores da empresa, da redação à contabilidade.
Em 1958, quando Victor Civita perguntou ao filho que acabara de voltar o que pretendia fazer, ouviu a resposta que apressaria a entrada da Abril no universo jornalístico: “Quero fazer uma revista de informação semanal, como a Time, uma revista de negócios como a Fortune e uma revista como a Playboy”, respondeu.
Pioneirismo
O pai prometeu preparar a empresa para o passo audacioso, consumado em 11 de setembro de 1968, quando chegou às bancas a primeira edição de VEJA. Roberto Civita participou intensamente das experiências pioneiras que resultaram no lançamento de Realidade, Exame, Quatro Rodas e Playboy.
Mas nada o deixava mais emocionado que recordar a trajetória descrita pela primeira revista semanal de informação do Brasil. Foi ele quem a criou. E foi ele o primeiro e único editor de VEJA, hoje a maior publicação do gênero fora dos Estados Unidos.
“Ninguém é mais importante que o leitor, e ele merece saber o que está acontecendo”, lembrava aos recém-chegados. “VEJA existe para contar a verdade. A fórmula é muito simples. Difícil é aplicá-la o tempo todo.”
Sobretudo em ambientes hostis à liberdade de expressão, aprendeu Roberto Civita três meses depois do parto da revista. Em 13 de dezembro de 1968, a decretação do Ato Institucional n° 5 transformou o que era um governo autoritário numa ditadura militar sem disfarces.
A capa da edição que noticiou o endurecimento do regime exibiu uma foto do general-presidente Arthur da Costa e Silva sentado, sozinho, no plenário do Congresso que o AI-5 havia fechado. Os chefes militares não gostaram da imagem e ordenaram a apreensão de todos os exemplares. A essa violência seguiu-se a instauração da censura prévia, que só em meados da década seguinte deixaria de tolher os passos de VEJA.
Risonho, cordial, otimista, Roberto Civita sempre acreditou que nenhuma atividade vale a pena se não for praticada com prazer. “Você está se divertindo?”, perguntava insistentemente aos profissionais com quem convivia. Mantinha-se otimista mesmo quando contemplava a face sombria do país. Para ele, o Brasil só conseguiria atacar com eficácia seus muitos problemas se antes aperfeiçoasse o sistema educacional, modernizasse o capitalismo nativo, removesse os entraves à livre iniciativa e consolidasse o estado democrático de direito.
“O que VEJA defende, em essência, é o cumprimento da Constituição e das leis”, repetia. Também essa fórmula parece simples. Difícil é colocá-la em prática. Foi o que o editor de VEJA sempre soube fazer.
28 de maio de 2013
Reinaldo Azevedo
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