Conheci Roberto Civita em 1973, quando o colosso em que VEJA se transformaria era apenas um brilho no olhar do seu criador. Somadas as duas passagens pela Editora Abril, tive o privilégio de trabalhar 18 anos sob o comando de RC, como se identificou em milhares de bilhetes manuscritos. Já descrevi sucintamente o risonho, otimista e irredutível defensor da liberdade e da democracia que o Brasil perdeu neste domingo. Junto-me à cerimônia do adeus com um aceno de poucos parágrafos.
Jornalistas aprendem já na primeira reportagem que governantes brasileiros não admitem menos que elogios. Denúncias fartamente documentadas, constatações visíveis a olho nu, verdades factuais indesmentíveis, críticas merecidíssimas, mesmo ligeiros reparos „Ÿ tudo é empilhado num único e intolerável balaio: aos olhos dos donos do poder, assumem contornos de ofensa grave, infâmia imperdoável, crime hediondo, afronta aos superiores interesses da pátria. Uns mais, outros menos, todos sonharam ou sonham com o sumiço da imprensa independente.
Para livrar-se da altivez de VEJA, quase todos tentaram dobrar Roberto Civita. Nenhum conseguiu. Nascida três meses antes da decretação do AI-5, que proclamou a ditadura escancarada, a revista cruzou a infância e a adolescência pressionada por chefes militares, alcançou a maturidade com a democracia ainda engatinhando e enrijeceu a musculatura enfrentando o coro dos déspotas nada esclarecidos com a serenidade dos que têm razão e a combatividade dos que foram poupados do sentimento do medo.
Nunca cessaram os queixumes, choradeiras, arreganhos e berreiros de coronéis de jaquetão, tiranetes sertanejos ou, mais recentemente, populistas demagogos promovidos a padroeiros da nação por stalinistas farofeiros e assaltantes de cofres públicos.
Eles chegaram ao Planalto com a esperança de induzir Roberto Civita a esquecer momentaneamente princípios irrevogáveis „Ÿ e forçar a publicação que sempre pertenceu aos leitores a desviar-se da estrada principal. Voltaram à planície frustrados com a descoberta de que existem homens e coisas que não têm preço. Muitos pastores da escuridão já passaram. Logo todos terão passado. VEJA ficará.
A criatura não teria sobrevivido ao cerco dos intolerantes se não fosse blindada pelo caráter e pela determinação do criador. A revista é a cara, a alma e o coração de Roberto Civita, que nela continuará existindo. Poucas formas de eternidade são tão belas.
28 de maio de 2013
Augusto Nunes - Veja
Jornalistas aprendem já na primeira reportagem que governantes brasileiros não admitem menos que elogios. Denúncias fartamente documentadas, constatações visíveis a olho nu, verdades factuais indesmentíveis, críticas merecidíssimas, mesmo ligeiros reparos „Ÿ tudo é empilhado num único e intolerável balaio: aos olhos dos donos do poder, assumem contornos de ofensa grave, infâmia imperdoável, crime hediondo, afronta aos superiores interesses da pátria. Uns mais, outros menos, todos sonharam ou sonham com o sumiço da imprensa independente.
Para livrar-se da altivez de VEJA, quase todos tentaram dobrar Roberto Civita. Nenhum conseguiu. Nascida três meses antes da decretação do AI-5, que proclamou a ditadura escancarada, a revista cruzou a infância e a adolescência pressionada por chefes militares, alcançou a maturidade com a democracia ainda engatinhando e enrijeceu a musculatura enfrentando o coro dos déspotas nada esclarecidos com a serenidade dos que têm razão e a combatividade dos que foram poupados do sentimento do medo.
Nunca cessaram os queixumes, choradeiras, arreganhos e berreiros de coronéis de jaquetão, tiranetes sertanejos ou, mais recentemente, populistas demagogos promovidos a padroeiros da nação por stalinistas farofeiros e assaltantes de cofres públicos.
Eles chegaram ao Planalto com a esperança de induzir Roberto Civita a esquecer momentaneamente princípios irrevogáveis „Ÿ e forçar a publicação que sempre pertenceu aos leitores a desviar-se da estrada principal. Voltaram à planície frustrados com a descoberta de que existem homens e coisas que não têm preço. Muitos pastores da escuridão já passaram. Logo todos terão passado. VEJA ficará.
A criatura não teria sobrevivido ao cerco dos intolerantes se não fosse blindada pelo caráter e pela determinação do criador. A revista é a cara, a alma e o coração de Roberto Civita, que nela continuará existindo. Poucas formas de eternidade são tão belas.
28 de maio de 2013
Augusto Nunes - Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário