"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 28 de maio de 2013

COPOM NO TABULEIRO

 

Os sinais que vieram da China, as palavras que foram ditas nos Estados Unidos, as previsões dos economistas, os indicadores do IBGE, tudo torna mais difícil a decisão do Banco Central a ser tomada na reunião que começa hoje e termina amanhã.

O PIB do primeiro trimestre sairá na manhã do dia da decisão, ajudando a orientar a decisão do Copom sobre os juros, hoje em 7,5%.

No mercado financeiro, há dúvidas. Há quem preveja uma alta de 0,5%, pelo fato de o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ter falado em fazer “tudo o que for necessário” para reduzir a inflação.

Eu acho que têm mais chance de acertar os que acreditam que o ajuste será de mais 0,25%. E isso pela mistura que está no primeiro parágrafo.

A China está esquisita. O número que saiu na semana passada é apenas um indicador antecedente da indústria, mas, se o país estiver desacelerando mais rapidamente do que se imagina, é água fria no crescimento mundial.

Para nós, que somos fornecedores de insumos industriais, saber que a indústria chinesa pode ter encolhido em maio é para se levar em conta.

Isso derruba mais os preços das commodities que o Brasil exporta e pode ter um impacto de redução da inflação aqui.

É até espantoso que com tanta queda de preço ainda não tenha havido redução mais forte do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial.

Já nos EUA, o sinal dado pelo Fed foi de redução do ritmo do incentivo monetário. Nada de suspensão dos estímulos mensais. Apenas comprar menos títulos.

Mas o mundo anda com os nervos tão à flor da pele que isso e o dado das encomendas dos diretores de compras da indústria chinesa — PMI — foram o suficiente para derrubar os mercados.

Eles se preocupam com a China mais fraca e se preocupam com os EUA um pouco mais forte, porque isso pode significar retirada dos estímulos por parte do BC americano.

O PIB do Brasil no primeiro trimestre deve ser bom. Talvez pouco menor do que o 1,05% antecipado pelo IBC-Br, o índice de atividade econômica do Banco Central.

Até no governo esperam algo em torno de 0,9%, mas isso é crescimento que, anualizado, dá perto de 4%. Só que ontem, de novo, a pesquisa Focus — consulta feita pelo BC com instituições do mercado financeiro — mostrou nova queda na previsão do PIB de 2013, para 2,93%.

A atividade este ano está minguando, como já foi dito aqui na coluna, só que a inflação, mesmo com todos os truques do governo, continua alta. O último foi aumentar o subsídio e a desoneração às empresas de ônibus para que a tarifa não suba muito em São Paulo e, assim, junho tenha inflação menor.

Uma cambalhota foi dada no preço da energia. O governo reduziu as tarifas e, em seguida, a longa estiagem e o baixo nível de reservatórios obrigaram o uso de todas as térmicas do país por muito tempo. Algumas foram desligadas, mas a maioria permanece em atividade. Isso elevou o custo da energia.

Para o preço não chegar ao consumidor, o governo vai usar uma conta que estava marcada para ser extinta, a CDE. Desta vez, será alimentada não pelo consumidor, mas por dinheiro a ser pago nos próximos 10 anos por Itaipu ao governo.

A inflação permanece tinhosa, apesar da queda dos preços das matérias-primas no mercado internacional, da desaceleração da China, dos truques do governo e da primeira elevação da taxa de juros na última reunião. Mas a atividade está ficando mais fraca.

O número do primeiro trimestre será bom, mas nada exuberante, e pode não se manter nos trimestre seguintes.

Quando a atividade está fraca, a inflação alta, e o mundo incerto, é o momento difícil de fazer a reunião do Copom. O mercado faz suas apostas. Elas são a dinheiro. Um volume incalculável de reais circula no mercado futuro de juros. E desta vez há bancos grandes em lados diferentes.

28 de maio de 2013
Míriam Leitão, O Globo

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