"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 28 de maio de 2013

SARNEY E ULYSSES




No dia 30 de dezembro de 1973, o jornal “O Estado”, do Maranhão e de Sarney, ex-governador e já senador, deu esta manchete : – “Sarney : Abertura Só Virá com a Expansão do Sistema”.
E lá dentro: – “Brasília – Ao fazer ontem a “O Globo” essa advertência, o senador José Sarney, da Arena do Maranhão, explicou que pensar em qualquer outra espécie de abertura que não seja a expansão (sic) do sistema (sic) é cair no irrealismo, na falta de objetividade”.

“Expansão” era ampliação, aprofundamento, agravamento do “sistema”, da ditadura, no seu período mais duro, mais torturador, mais sanguinário, em 1972, no governo Médici, AI-5 massacrando a Justiça, a imprensa, o país. E Sarney, ”realista”, “objetivo” (até hoje), achando pouco, querendo mais.

CONSTITUINTES 

Amigos do Maranhão reclamam que gosto de pegar no pé de Sarney. Pego pouco. Sarney não é um qualquer. Mais antigo dos senadores (começou em 1970), recorde nacional de mandatos (quatro de oito anos, começando o quinto), escritor, acadêmico, intelectual, ex-Presidente, não tem o direito de ficar por aí mordendo o calcanhar da historia. Escreveu na “Folha”:

1. – “As constituintes foram sempre marcos históricos. Elas foram reveladoras de estadistas e construtores de nações. Da de Filadélfia (EUA) permanecem vivos até hoje Madison, Franklin, Hamilton, Washington e outros”.

2. – “No Brasil, a de 1823 revelou os Andradas, Antonio Carlos e José Bonifácio, Cairu (José da Silva Lisboa), Jequitinhonha (Francisco Acaiaba de Montezuma), Olinda (Pedro de Araujo Lima) e nomes que construíram as instituições brasileiras. Em 1890, Rui, Prudente de Morais e Campos Sales”.

3. – “A de 1988 não revelou ninguém (sic). Não há um destaque (sic) a fazer, a não ser a redação dos direitos individuais, de Afonso Arinos. Um nome (sic) sequer apareceu. Todos dedicaram-se ao clientelismo do Estado”.

TANCREDO

O único objetivo dessa conversa de Sarney é deixar escorrer a baba da inveja, do ressentimento, e agredir Ulysses Guimarães, que já não está aí para se defender e a quem sobretudo ele deveu ter sido presidente da Republica.
Primeiro, por Ulysses o ter levado para o PMDB, quando ele mal saia da presidência do PDS e lutava ferozmente para ser o vice na chapa de Maluf. A maioria do PMDB não o queria e na lista de Tancredo era o ultimo.
Segundo, pelo gesto de desprendimento de Ulysses, na madrugada de 15 de março de 85, quando Tancredo foi operado em Brasília e era preciso empossar o substituto.

Quem estava lá, como eu, viu e ouviu. Desde o primeiro instante, Ulysses disse que quem devia assumir era Sarney, o vice eleito com Tancredo no Colégio Eleitoral, e não ele, presidente da Câmara.
Era o certo, o legal, e Sarney assumiu, sabendo que o presidente Figueiredo e os ministros militares não o queriam, acusado por Figueiredo de “traidor”, tanto que não o esperou no Planalto e não lhe passou a faixa.
Sarney escrever, agora, que a Constituinte de 88 “não revelou ninguém” é uma agressão gratuita, despropositada, despeitada, a Ulysses. A Constituição de 88 tem o rosto, o caráter, a bravura, a grandeza e a honra de Ulysses.

DEMOCRACIA

Pondo os gregos na Ágora, a praça de Atenas, para votar, Péricles inventou a democracia, 500 anos antes de Cristo. Mas quem criou o Estado democrático de Direito foi Montesquieu, em “L’Esprit des Lois” (1748), no qual “os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estariam nitidamente separados e cada um independentemente (sic) dos outros, para a melhor garantia da liberdade dos cidadãos e da eficiência das instituições políticas”.
A Constituição brasileira sacramenta isso em duas linhas, no art. 2º: – “São poderes da União, independentes (sic) e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Agora vem Lula, que jurou cumprir e honrar a Constituição, e diz : – “Foi dada ordem (sic) à base do governo para votar o aumento do FPM” É um perjuro. A democracia de Lula é anterior a Montesquieu.

PAULISTA

A prefeitura de São Paulo proibiu o 1º de maio, a marcha dos evangélicos, o reveillon e outras celebrações na Avenida Paulista. Uma exceção: continua permitida a “Parada Gay”. Os heteros, em franca minoria, precisam começar a se organizar para garantirem ao menos algumas cotas.

Ó QUEM FALA!

Segunda feira, Fernando Henrique chegou a São Paulo de madrugada, dos Estados Unidos, e à noite já estava, como estrela, em um jantar do banco BNP Paribas, fazendo uma palestra. Mônica Bergamo, da “Folha”, contou:
“Foi saudado efusivamente por Roger Agnelli, presidente da Vale: – “Mas você só viaja. Não pára mais aqui”! – “Ó quem fala”! “FHC falou de desemprego, cidadania e da necessidade de os brasileiros resgatarem valores, como os de família : – “Hoje em dia, todo mundo casa, descasa, não casa. Todo mundo tem filho aqui, tem filho ali”…
Ó quem fala!

28 de maio de 2013
Sebastião Nery

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