É inconcebível que as maiores manifestações de rua da história do país deixem os brasileiros perplexos, inseguros e assustados e que a presidente da República nada diga. Ou limite-se a ler três ou quatro parágrafos no meio de um discurso sobre Código Mineral para garantir que o país acordou mais forte. Ou está mais forte.
O país até pode estar. O governo enfraqueceu-se
No mínimo, falta imaginação ao governo. No máximo, talvez ele não tenha ou não saiba o que dizer. Como a virtude está no meio, é possível que o marqueteiro João Santana estava neste momento retocando os termos de um pronunciamento à Nação que Dilma deverá fazer esta noite em cadeia de rádio e de televisão.
Esta manhã, ela reuniu-se com alguns dos seus ministros de copa e cozinha. Sim, ele estava lá - o Aloisio Mercadante, ministro da Educação. Não. Michel Temer, vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, não estava. Dilma costuma esquecê-lo.
O único a falar à saída da reunião foi Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência. Disse duas grandes bobagens. A número 1: a continuarem as manifestações, a Jornada Mundial da Juventude, à frente o Papa Francisco, poderá sair prejudicada.
Carvalho quer afligir ao católicos e tirá-los das passeatas.
Que movimento se arriscaria a vir a ser apontado no futuro como aquele que frustrou a vinda do Papa ao Brasil? Ou que transformou sua viagem em um fracasso?
Bobagem número 2: Carvalho jogou nas costas da imprensa parte da culpa pelo que anda acontecendo. Disse assim: (...) "a imprensa teve um papel nesse sentido de estimular um tipo de moralismo [na sociedade] no sentido despolitizado e um tipo de antipolítica que leva a tudo isso".
Um tanto confuso, pois não? E injusto.
Que tipo de moralismo destila a imprensa? Aquele que refuga a roubalheira? Que condena a corrupção? Que sugere cadeia para os que desrespeitam as leis?
Como o governo, caberia à imprensa ser tolerante com desmandos?
O que disse Carvalho ainda é herança do mensalão. O PT insistiu até quando pode com a história de Caixa 2 de campanha. Aí veio o Supremo Tribunal Federal e decretou: foi mensalão, tentativa de uma organização criminosa de se apoderar de parte do aparelho do Estado.
Onde ficou o moralismo da imprensa?
O governo Dilma carece de pouco tempo para evitar o desastre de ver se esvair sua popularidade, tornando-se sério candidato a uma fragorosa derrota na eleição do próximo ano.
A presidente poderá enxergar o momento que atravessa como uma preciosa oportunidade para corrigir seus principais erros e aproveitá-la com coragem e ousadia.
Um pouco de moralismo não lhe fará mal. Mas ele, apenas, não será suficiente para apagar ou empalidecer o que restou demonstrado pelas manifestações que ainda não chegaram ao fim.
Relembrem tudo o que foi reclamado nos últimos dias. Pois bem: tudo ou quase tudo tem a ver com o governo, depende dele para ser resolvido ou decorre de sua falta de competência.
21 de junho de 2013
in Ricardo noblat
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