Se até aqui a batalha foi dura e repleta de obstáculos, incluindo aqueles colocados pela forças policiais e pela ação mais violenta de alguns grupos, a situação, a partir de agora, é outra.
O natural é que se inicie um processo de arrefecimento do movimento. Há um desgaste e um cansaço naturais que, quase sempre, são acompanhados de uma dispersão. Entretanto, é quando isso acontece que há uma disputa política pela apropriação do movimento. Quase sempre esse duelo é travado pelas lideranças e pelos partidos já estabelecidos.
Portanto, é importante que os manifestantes tenham o cuidado de impedir que a espontaneidade e a legitimidade dos protestos sejam utilizados de forma indevida e com fins eleitoreiros. Não é uma missão fácil, mas é necessária para quem pretende tornar o país mais justo e democrático.
Na verdade, ainda que esse movimento seja extremamente difuso e, efetivamente, não tenha um foco determinado, a autenticidade dele é louvável e pode contribuir para o aperfeiçoamento da democracia brasileira.
Repetindo uma frase que um dos rapazes envolvidos nas manifestações disse ao ouvir que o movimento não tinha líderes nem bandeiras definidas – bandeiras são muitas, e líderes serão criados –, seria muito salutar que desse movimento surgissem novas lideranças, aptas a manter a capacidade de articulação e mobilização agora demonstrada.
E, mais importante do que isso, que sejam capazes também de identificar um caminho de atuação que ultrapasse o protesto e que busque a identificação com as instituições democráticas.
Essa geração que ocupa as ruas tem todo o direito de rejeitar a atual representação política. Mas, certamente, não tem o direito de desconhecer a importância das instituições para a democracia. Nas décadas de 60, 70 e 80, muitos jovens foram torturados e morreram para impedir que o Congresso Nacional fosse fechado e para que o povo tivesse o direito de escolher os seus governantes. São os Poderes instituídos e a Constituição que garantem a democracia.
Portanto, é mais do que compreensível que haja um grande descontentamento com os atuais parlamentares e governantes. Sendo assim, que a juventude crie novas lideranças em consonância com os seus anseios e as elejam, evitando a recondução ao poder daqueles que não estejam comprometidos com a sociedade brasileira. Importante é que esse processo aconteça dentro do jogo democrático, com respeito às instituições.
Derrotar os maus políticos sim, mas jogar por terra os partidos e os Poderes é o mesmo que tirar o sofá da sala.
21 de junho de 2013
Carla Kreefft (O Tempo)
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