Artigos - Cultura
As redes sociais são um sucesso, especialmente o Facebook. Quando Mark Zuckerberg criou esse instrumento, talvez não imaginasse o quanto ele se transformaria em um meio indispensável para a expressão pessoal.
Lembro-me de minha juventude e o quanto era difícil conseguir que duas ou três pessoas, ao mesmo tempo, ouvissem o que eu tinha para dizer. Quando conseguia, sentia-me realmente popular. Hoje, com as redes sociais, qualquer expressão é imediatamente vista por dezenas, centenas e até milhares de pessoas. Isto, sim, é uma mudança de paradigma.
No entanto, erra quem entende que a popularização das mídias sociais se deu única e principalmente por causa do desejo das pessoas de serem reconhecidas. Há muito mais envolvido nisso. Inclusive, boa parte dos usuários parece ser de gente sem grandes pretensões de sucesso.
O que levou tantas pessoas a usar de maneira tão insistente essa tecnologia é a possibilidade de serem ouvidas, de saberem que o que dizem, ainda que seja absolutamente trivial, está sendo percebido pelos outros.
Pois aí encontra-se a síntese do homem pós-moderno: essa insegurança existencial que clama por atenção e feedback, esse medo de passar desapercebido, de tornar-se um fantasma, imperceptível aos olhos humanos. O indivíduo contemporâneo é uma mistura de incerteza ontológica e ansiedade perpétua.
Mas tudo isso é mero fruto dos nossos tempos. Antigamente, quando Deus era o centro da vida social, quando sua existência era incontestável, não havia como o homem sentir-se só. Ainda que isolado em uma caverna no deserto, não havia dúvida para o indivíduo que os olhos divinos lhe acompanhavam. Assim, seja em meio à multidão, seja encerrado em um mosteiro, a sensação era de participação na existência. Tanto que não havia maior terror que a excomunhão, que era exatamente a ruptura com a eternidade.
Desde Descartes, porém, e com o contemporâneo afastamento de Deus dos negócios humanos, o homem começou a investigar o eu, porém, desde aquele momento, a partir de si mesmo, não de uma existência anterior e superior. Por isso, chega a colocar em dúvida a própria existência, já que não há mais um ponto de partida exterior e transcendente. E mesmo quando conclui pela própria existência, faz isso baseado em algo que verificou unicamente em seu interior. Não há testemunhas de que vive, nem mesmo o testemunho divino. Há apenas uma tíbia confirmação interna.
A partir dali, o homem inicia a trajetória de uma paradoxal busca de si mesmo e afastamento de Deus. Quanto mais investiga seus próprios fundamentos, distancia-se deles. Nesse caminho, tentando encontrar-se, se perde, pois segue para longe de sua origem. A história do pensamento moderno é isto: uma ininterrupta tentativa de retomar aquilo que ele mesmo destruiu: a certeza de existir, a confiança em uma ordem transcendente e a esperança de um futuro melhor.
Já não há mais um Deus onde buscar as próprias razões; Ele foi esquecido. Mas a necessidade de encontrá-las persiste. Quem é este homem? E quem pode confirmá-lo? O pensamento, seguindo a conclusão cartesiana, até testemunha a própria existência, mas, isoladamente, é um testemunho frágil, quase vão.
Não é difícil perceber que desde que a subjetividade reclamou por autonomia o homem se esforça na tentativa de substituir a transcendência que lhe fundamentava a vida. Porém, o abismo alargou-se de tal maneira que o eu encontrou-se só, isolado e perdido. Em Schopenhauer, por exemplo, já no século XIX, o indivíduo não é nada mais além do que um fenômeno fugaz. Ao expulsar a Divindade dos negócios humanos, não há ninguém mais que confirme sua existência, a não ser um outro idêntico a ele.
Portanto, quando vejo as pessoas clamando por atenção, pela busca do reconhecimento e por serem percebidas, estou certo que isso é o resultado desses séculos de vagar existencial. As mídias sociais respondem, assim, a um anseio que encontra-se impregnado na alma do indivíduo e que vem se acumulando na proporção inversa do afastamento da transcendência da vida humana.
Em nossos dias, a única maneira que as pessoas têm para sentir-se alguém é pelo testemunho do outro. Somente há a certeza da própria existência quando alguém confirma isso. Por isso, uma curtida no Facebook pode ter uma valor bem mais alto do que jamais sonharia mesmo o mais otimista acionista em Wall Street.
06 de junho de 2013
Fabio Blanco é advogado e teólogo.
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