"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 6 de junho de 2013

E AGORA, JOSÉ?

 
PauloBrossard480_DidaSampaioAE2007_10_05
Desde o começo da atual crise econômica, as autoridades do Hemisfério Norte externaram suas preocupações a respeito da gravidade da crise, de modo a preparar a opinião de seus países quanto a medidas que teriam de ser adotadas; as nossas, sem excluir a senhora presidente da República, manifestaram-se quase com desdém acerca do problema, afirmando que o Brasil vencera com tranquilidade a de 2008 e com maior razão superaria a emergente, porque suas condições agora eram muito maiores e melhores do que naquela emergência.

Os dias se passaram e algumas dificuldades começaram a pipocar, mas as nossas autoridades continuaram a mostrar a mesma tranquilidade ou imobilismo, só quebrado com a implacável rebelião dos fatos. O primeiro deles, salvo engano, quando da denominada desindustrialização do setor siderúrgico, a receber o cataplasma do alívio fiscal e o conforto do socorro creditício.

 Ocorre que os casos agudos foram surgindo e a eles estendido o remédio rotulado de desoneração fiscal. A medida era de efeito pronto, mas, obviamente, não teria duração indeterminada; de mais a mais, a medida é emergencial e um dia terá de acabar; e o setor beneficiado poderá suportar a supressão do benefício?

Desde logo é de ser notado que a desoneração já produziu outros efeitos, a arrecadação federal caiu e não foi pouco. Dir-se-á que uma certa retração econômica também terá influído nesse resultado e não seria eu a contestar o fato. Ambos os fatos, senão ainda outros, terão contribuído para a consequência inegável e reconhecida, a arrecadação federal encolheu. E isso não pode ser ignorado indefinidamente. Enquanto isso, acerca de reforma tributária nenhuma palavra.

Como os nascituros não esperam para nascer, os fatos passaram a ocupar o palco dos acontecimentos, sem hora marcada. Um deles, na minha opinião, foi o que tomou conta do cenário dada sua realidade, objetividade e notoriedade; tornou-se sabido e ressabido que os nossos bens industrializados deixaram de possuir competitividade no mercado externo, até no mercado interno em relação a bens importados.
Não se trata de opinião, mas de fato. É evidente que a indústria nacional não poderá sofrer diante dessa realidade e como ela outros setores, dada a óbvia correlação de fatores de organização econômica nacional. E então?

Enquanto isso, acerca de reforma tributária nenhuma palavra
Os juros, que de outubro de 2012 a março do corrente ano se mantiveram em 7,25%, passaram a 8% e é admitida nova ou novas majorações.

 Há outro dado que me passou inquietante, a notícia divulgada, faz poucos dias, foi breve e amarga. No ano findo, o setor industrial registrou o pior resultado desde 2006. Suponho seja desnecessário insistir no assunto. A evidência dispensa provas e demonstrações.

Eis senão quando, no feriado de Corpus Christi, os meios de divulgação publicaram as novidades de véspera; três jornais que tive em mãos, a “Zero Hora” e dois de São Paulo, o “Estadão” e a “Folha”, estamparam em suas primeiras páginas manchetes praticamente iguais; a ZH: “PIB decepciona, juro sobe e dólar dispara”; a “Folha de S. Paulo”:
“PIB decepciona, mas Banco Central aumenta juros ainda mais”; o Estado de S. Paulo: “O PIB decepciona, mas Banco Central eleva juros para conter a inflação”, salientando que não há espaço no orçamento para nova desoneração de imposto, gerando o declínio da arrecadação.
A sagaz e criteriosa Eliane Cantanhêde resumiu tudo nesta frase: “Parece que está morrendo na praia aquela onda de Brasil Grande”.

Enfim, o ministro da Fazenda, cuja impassibilidade marmórea é proverbial, aludiu à reforma de seu plano.

06 de junho de 2013
Paulo Brossard

Fonte: Zero Hora

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