"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 6 de junho de 2013

TENHO A VIDA QUE EU SEMPRE QUIS, SOU PROSTITUTA, MAS SOU FELIZ





Há frases, versos, ditos, cujo autor não tem idéia de como se tornam necessárias para definir os tempos. Uma que repito muito – et pour cause – são os versos de Bilac:

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!

Não verás mesmo. Alguém já viu algum governo no mundo incentivar a prostituição? Até mesmo na Suécia dos anos 70, quando a prostituta era vista como uma espécie de terapeuta ou assistente social, os suecos não foram tão longe. Nos países escandinavos, na Alemanha e Holanda, as moças gozam de uma série de proteções. Daí a terem sua profissão louvada como fórmula de chegar à felicidade, vai uma longa distância.

Il nous faut de l’audace, encore de l’audace, toujours de l’audace – dizia Danton – como condição de salvação da França. No Brasil, audácia é o que não falta. Lemos nos jornais de ontem que o ministério da Saúde lançou uma campanha nas redes sociais para reduzir o estigma em torno da prostituição. Uma das peças diz: "Eu sou feliz sendo prostituta" e tem profissionais do sexo como protagonistas.

Composto por vídeos e banners – dizem os jornais – o material é fruto da oficina de profissionais do sexo realizada em março passado em João Pessoa, que tem como mote "Sem vergonha de usar camisinha". Elaborada para marcar o Dia Internacional das Prostitutas, sábado passado, a campanha - que retrata positivamente a profissão - foi bem recebida por feministas e grupos que trabalham com prevenção. Só faltou perguntar às moças o que pensam do que pensam os que por elas pretendem pensar.

Não tenho nada contra a prostituição. Pelo contrário, sempre defendi o ofício. Sempre mantive bom comércio com elas e sempre que pude as tratei com carinho. Até hoje, algumas amigas daqueles dias - já aposentadas da “noite”, como diziam – ainda me telefonam para rememorar o tempos passados. Naquela época de bordéis, era de praxe namorar um pouco antes de ir aos finalmentes. Hoje, o ofício taylorizou-se. Marca-se encontro por telefone, sem o vis-à-vis, com hora de entrada e saída do quarto.

Faltou assessoria ao ministério da Saúde. Afinal, poderia ter citado defensores ilustres da profissão. Falando delas, já dizia Demóstenes: "Casamos para ter filhos legítimos; temos concubinas para o vulgar trabalho doméstico; e hetairas para o prazer do amor".

Ao fazer o panegírico de Sólon, que regulamentou a milenar profissão, disse Filemón: "Com semelhante instituição, tiveste em mira, apenas, a saúde e a tranqüilidade do povo, localizando nos prostíbulos estatais as mulheres que compraste para a satisfação pública."

Era a época das hetairas, cujo convívio era buscado pelos atenienses, como parte de suas formações. Péricles, ainda jovem, reunia-se com amigos em suas casas, para debater e aprender. Acabou se ligando a uma delas, Aspásia, e só não casou com ela porque era meteca de Mileto.

Lá, na distante Grécia, elas foram cultuadas como intelectuais e tornaram mais brilhantes os dias de Platão e Sócrates. São Tomás e Agostinho reconheciam sua utilidade pública, ao compará-las às cloacas de um castelo: sem a cloaca, o castelo se torna sujo e infecto.

Mais para nossos dias, o rei Ludwig da Baviera nomeou Margaret Trautmann como ministra da Cultura e das Artes. Esta senhora, longe de ser uma acadêmica, administrava um bordel em Munique. Quando o ministro da Justiça mandou fechar a casa, Trautmann pediu uma entrevista ao rei. Alegou que sua casa era um ponto de encontro de poetas e artistas, nobres e políticos, que lá se reuniam para cultivar o espírito, claro que sempre na boa companhia de suas pupilas. Ludwig não hesitou. Ordenou a reabertura do bordel e a nomeou ministra.

Delas disse o marquês de Sade: "Eis as mulheres verdadeiramente amáveis, felizes e respeitáveis criaturas que a opinião infama e a volúpia coroa, e que, muito mais necessárias à sociedade do que as recatadas, têm a coragem de sacrificar, para servi-la, a consideração que esta sociedade ousa negar-lhes injustamente".

Daí a achar que a profissão pode levar à felicidade são outros quinhentos. A maioria delas leva vida sofrida e poucas são as que têm sucesso na vida. Há uma diferença abissal entre a pobre coitada que vende seu corpo na rua e a profissional que pode dar-se ao luxo de selecionar sua clientela. Mesmo esta talvez não se sinta muito bem em sua pele ao ter de entregar-se a seus clientes. Eu as conheço de perto. Nenhuma delas deseja legar a profissão à filha.

O PT parece ter aderido à defesa de uma sexualidade antes tida como imoral. Ainda este ano, foi distribuído a 13 Estados do país o chamado kit gay – elaborado em 2010 -, um pacote de seis revistas de histórias em quadrinhos (HQ) com foco no público adolescente, estimulando a opção pelo homossexualismo. Uma espécie daqueles antigos “catecismos” do Carlos Zéfiro, só que desta vez com a chancela oficial do Estado.

Que as pessoas sejam homossexuais ou curtam sexo pago, nada contra. Ocorre que, ao promover comportamentos sexuais, o PT está incorrendo na antiga mania da Santa Madre Igreja, ao pretender ditar como se comportar na cama. Só que no sentido contrário da Santa Madre. Se os católicos pregavam a castidade e o papai-mamãe, os petistas são mais ecléticos. Para as autoridades da Saúde e da Educação, agora vale tudo.

Mas o governo petista é tão dinâmico que mal deixa tempo ao cronista para escrever uma crônica. Ante a grita geral, o ministro da Saúde recuou. "Enquanto eu for ministro, não acho que seja uma mensagem a ser passada pelo ministério da Saúde", disse ainda ontem Alexandre Padilha.

Seja como for, espanta ver o governo, nestes dias de Aids e tráfico sexual, estimulando a prostituição e o homossexualismo. Em março passado, no Dia Internacional da Mulher, dona Dilma manifestava a intenção de intensificar o combate contra os “crimes monstruosos do tráfico sexual”. Nas tribunas internacionais, o Brasil quer afastar a imagem – promovida inclusive pelas embaixadas brasileiras – de paraíso sexual. Para o público interno, o governo faz – ou tentou fazer – a apologia do homossexualismo e da prostituição.

Ora, isto é questão de foro íntimo. Estados nada têm a ver com que o cidadão prefere na cama. Deve ser influência muçulmana, nestes dias em que as esquerdas estão aderindo ao Islã. Da Igreja Católica, cujos sacerdotes se especializaram no consumo de jovens efebos, já não é.

Parodiando Juca Chaves: tenho a vida que eu sempre quis, sou prostituta mas eu sou feliz. Esta parece ser a visão do PT. Pelo menos, afasta a imagem do mensalão. Enquanto isso, a Associação de Prostitutas do Estado de Minas Gerais (Aprosmig) oferece há dois meses cursos gratuitos de inglês para facilitar o trabalho com os turistas durante os eventos esportivos da Copa.

Criança! Não verás...


06 de junho de 2013
janer cristaldo

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