"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 1 de agosto de 2012

MENSALÃO E A HORA DA FAXINA

JULGAMENTO ESQUENTA O DEBATE NO CONGRESSO
Às vésperas do seu mais importante julgamento, que pode se transformar num marco contra a impunidade de políticos no país, Supremo reforça segurança, promove limpeza no prédio e instala detector de metais.
É tudo verdade? 600 testemunhas do processo confirmam maior parte das denúncias de Jefferson.
Andamento do caso no STF vai elevar o tom das disputas entre o PT e o PSDB na CPI do Cachoeira.
Thomaz Bastos abandona defesa de bicheiro para dar assistência jurídica a três réus do mensalão.
Análise do mensalão no STF vai influenciar os embates entre PT e PSDB na CPI do Cachoeira
A temperatura política da CPI do Cachoeira, que retoma os trabalhos na terça-feira da próxima semana, vai subir com o início do julgamento do mensalão. As
disputas partidárias, principalmente entre PT e PSDB, serão ainda mais evidentes do que no primeiro semestre. Resultado: o trabalho investigativo deve mais uma vez ficar em segundo plano. Integrantes da comissão avaliam que o ritmo da CPI e a escolha dos requerimentos a serem apreciados e votados estarão ligados diretamente ao andamento do julgamento, que vai ocorrer no Supremo Tribunal Federal (STF).
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR), principal voz oposicionista na CPI do Cachoeira, atesta que a briga entre governo e oposição será potencializada. "É inegável que a CPI tem relação direta com o mensalão. A temperatura deve se elevar, sim." Para o senador, o comando da comissão vai criar fatos com o objetivo de tentar mudar o foco. "Não tenho nenhuma dúvida. A relatoria já vinha selecionando os alvos. Há também alguns bloqueios em relação às informações que chegam à comissão." Nos bastidores, há rumores de que a relatoria deve protelar os depoimentos do dono da empresa Delta, Fernando Cavendish, e de Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
O deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR) avalia que o clima do julgamento irá tomar conta da CPI. "É um episódio histórico. É evidente que vai se refletir nos trabalhos da comissão. Não tem como não chegar à CPI, mas o importante é que a comissão vai funcionar normalmente." O parlamentar aproveitou a ocasião para cobrar novamente a criação de subcomissões. "Por que há tanto poder na mão de uma pessoa? Tudo isso poderia ser evitado", questionou.
O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), reagiu e declarou que o julgamento não irá interferir nos trabalhos investigativos. "Não há nenhuma relação entre a CPI e o mensalão. São pautas diferentes e estruturas diferentes. Não há vasos comunicantes entre ambos. A agenda da CPI vai seguir seu rumo da mesma forma que a agenda do mensalão também. Elas não estão atreladas. Nunca houve nenhuma interferência na CPI em decorrência do julgamento. Não há causa e efeito entre elas", assegurou.
Depoimentos
A grande expectativa, no retorno da comissão, é em relação à reunião administrativa marcada para 14 de agosto. A reconvocação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), tem chances de ser aprovada. Em 7 de agosto, a mulher de Carlinhos Cachoeira, Andressa Mendonça, será ouvida. No mesmo dia, a comissão também irá fazer a oitiva do policial federal aposentado Joaquim Gomes Thomé Neto, suspeito de realizar escutas clandestinas para a organização criminosa chefiada pelo contraventor.
Um dia depois, a CPI vai ouvir a ex-mulher de Cachoeira Andréa Aprígio e Rubmaier Ferreira de Carvalho. Ele é contador de várias empresas fantasmas do esquema que receberam cerca de R$ 30 milhões em depósitos realizados pela empreiteira Delta, no foco do escândalo. Hoje, a presidência da comissão vai divulgar os nomes de mais dois depoentes. Eles vão comparecer à CPI em 15 de agosto.

Correio Braziliense (DF) - 01/08/2012
JOÃO VALADARES

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