Em 2005,
senador paranaense subiu à tribuna para pedir a queda do presidente. Para ele,
não ter insistido na ideia foi “erro histórico” da oposição
Em 11 de
agosto de 2005, o governo Lula esteve à beira do precipício. Em uma rara crise
de popularidade, o Datafolha mostrava pela primeira vez que ele não se
reelegeria em uma disputa contra o tucano José Serra, a quem havia derrotado
três anos antes. No mesmo dia, o publicitário Duda Mendonça compareceu
espontaneamente à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista dos Correios,
que investigava o mensalão. Confirmou que recebeu cerca de R$ 15,5 milhões via
caixa dois pelos trabalhos prestados à campanha do petista em 2002, dos quais
R$ 11,9 milhões foram pagos pelo publicitário Marcos Valério em uma conta nas
Bahamas.
O
depoimento ainda acontecia quando o senador paranaense Alvaro Dias (PSDB) foi à
tribuna do Senado para ressuscitar um trauma nacional: 13 anos após o
afastamento de Fernando Collor, ele defendia o impeachment de Lula. Ficou
sozinho. Hoje, às vésperas do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal
Federal, ele afirma que não ter insistido na queda do presidente “foi o erro
histórico da oposição”.
“Se
lançássemos a tese do impeachment naquela hora, ela poderia crescer nos
próximos meses entre a opinião pública”, diz o senador, que admite que a medida
não contava com apoio popular. Segundo ele, a oposição adotou uma estratégia
equivocada ao acreditar que o PT naturalmente não resistiria às proporções do
escândalo. “Apostou-se na capacidade de indignação da população e se perdeu a
aposta.”
Um dia
depois, Lula fez um pronunciamento na Granja do Torto – residência oficial da
Presidência – em que disse ter sido “traído por práticas inaceitáveis das quais
não tinha conhecimento”. Nos meses seguintes, o presidente conseguiu descolar a
imagem do escândalo.
Serra,
então prefeito de São Paulo, acabou fora da disputa em 2006. O escolhido pelos
tucanos foi o governador Geraldo Alckmin. Apesar de todos os percalços, Lula se
reelegeu com 5,5 milhões de votos a mais do que em 2002.
Nem a CPI
nem a denúncia do Procuradoria-Geral da República sobre o mensalão apontaram
envolvimento do presidente com o caso. “Eu acho que tinha chance juridicamente,
mas não politicamente”, avalia o relator da comissão, deputado federal Osmar
Serraglio (PMDB-PR), para quem o processo poderia desencadear uma “guerra
civil”.
Do outro
lado, a hipótese de afastamento de Lula fortalece a ideia de que o mensalão era
um “golpe”.“A realidade é que não havia provas contra o presidente”, afirma o
deputado Dr. Rosinha (PT-PR), que foi suplente da comissão.
Apesar de
ficar isolado, Alvaro diz que seu posicionamento foi “fundamental” para que o
relatório final apresentado por Serraglio em abril de 2006 fosse aprovado. O
tucano lembra que tinha preparado um relatório em separado no qual pedia o
impeachment do presidente. “O governo acabou optando por aprovar o relatório do
Serraglio para evitar o desgaste de discutir o meu.”
Sob
protestos de setores da bancada petista no Congresso, a comissão aprovou por 11
votos a 4 o relatório de Serraglio. O texto pedia o indiciamento de mais de 100
pessoas, entre elas o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e do
ex-presidente do PT, José Genoino. Delas, 36 são réus no julgamento do mensalão
pelo STF, que começa na quinta-feira.
Seis
paranaenses fizeram parte da CPI dos Correios
Dos 64
integrantes da CPI mista dos Correios, realizada entre 2005 e 2006, seis eram
do Paraná. Além do relator, Osmar Serraglio (PMDB), e do sub-relator Gustavo
Fruet (na época no PSDB, hoje no PDT), eram titulares Alvaro Dias (PSDB) e
Nelson Meurer (PP). Completavam a lista o deputado Dr. Rosinha (PT) e o então
senador Flávio Arns (na época no PT, hoje no PSDB), que eram suplentes.
Entre
todos eles, apenas Arns não teve grande participação nas investigações. Atual
vice-governador do Paraná, ele informou pela assessoria de imprensa que, como
era apenas suplente, preferiu tratar de outras tarefas. Suplentes votam apenas
na ausência do titular, mas têm o direito de participar das sessões em geral.
Já
Meurer, que viu o PP envolvido em denúncias de ter se beneficiado do mensalão
ao longo das investigações, diz que tem a mesma opinião de Lula sobre o
episódio. “Nunca houve uma mesada para aliados que se transformava em mensalão.
O que havia era uma ajuda de campanha, ou caixa dois.” Dos três deputados
federais cassados posteriormente no plenário da Câmara por suspeita de
envolvimento com o mensalão, um era do PP, o pernambucano Pedro Corrêa.
Gazeta do
Povo (PR) - 31/07/2012
André Gonçalves
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